Pedro, pois, estava
guardado no cárcere; mas havia oração incessante a Deus por parte da igreja a
favor dele. Eis, porém, que sobreveio um anjo do Senhor, e uma luz
iluminou a prisão; e, tocando ele o lado de Pedro, o despertou, dizendo:
Levanta-te depressa! Então, as cadeias caíram-lhe das mãos. Atos dos
Apóstolos 12.5 e 7
Pedro e o anjo, Sebastiano Conca em 1750 |
Esse pequeno trecho do livro de Atos dos Apóstolos exemplifica
muito bem o binômio que na fé cristã é chamado de chamado de entrega e
confiança. Realmente não pode haver exemplo mais apropriado para tipificar o indecifrável
gesto de entrega, do que o de Pedro que, na sua incapacidade de fazer qualquer
coisa para se libertar do cárcere, para onde foi enviado por ordem do Sumo
Sacerdote, tranquilamente dormia.
Conhecemos bem a maneira impulsiva que marcou a vida desse
apóstolo através dos evangelhos que narraram com detalhes a sua oscilante trajetória,
enquanto discípulo de Jesus. A sarcástica psicologia de hoje não o perdoaria ao
descrevê-lo como um burro com iniciativa. Contudo, o nosso carinho e admiração
por este apóstolo, nos faz ver que todas as vezes em que se evidenciaram as
suas atitudes atrapalhadas, Pedro estava agindo por boa fé, e que apenas havia
feito a escolha errada, antecipando-se à inércia dos seus companheiros. Mas é
bom que se veja que na situação que o texto apresenta, só lhe restava mostrar
desespero pela adversidade, ou desânimo pela impotência. Dessa vez, porém,
Pedro, no entanto, fez a escolha certa: preferiu esperar pacientemente no
Senhor.
O que dizer então, não de uma só pessoa, mas de um grupo
considerável de pessoas, que ao se encontrar também diante da incapacidade de
fazer qualquer coisa pelo seu guia espiritual, apenas ora a Deus em seu favor?
Diriam os céticos que isso não passa da alternativa patética ante ao inconformismo
suicida. Mas aquele que crê sabe que não é bem assim. Sabe que existe uma força
inominável que une o que ora ao objeto da sua oração, e sabe também que essa
força não provém dos resultados, mas da simples espera naquele a quem a oração
é dirigida.
No episódio acima, Pedro foi, para a igreja que se manteve
em oração, milagrosamente libertado, mas esta não é a única conclusão possível.
Havia também aqueles que imaginavam que aquela foi apenas mais uma falha da
segurança. Contudo, ambos os casos não refletem o verdadeiro sentido que Lucas
quis dar à sua narrativa. Para ele, não era bem a resposta positiva à oração
que estava em evidência, mas sim os momentos distintos em que se encontravam as
pessoas envolvidas. De um lado Pedro que dormia, e do outro, a igreja que se
mantinha acordada em oração. E este sim, pode ser considerado o verdadeiro resultado
positivo dessa experiência de entrega e confiança.
Ao contrário do que tem se pregado constantemente, a nossa
fé não se fundamenta em resultados. A Bíblia não é para nós uma coletânea de
fatos em enumera as vezes que, aqueles que foram fiéis, saíram vitoriosos de
suas dificuldades e tribulações. Pelo contrário. Ela prefere nos contar a
história daqueles que morreram sem ver os seus sonhos realizados e dos que não
tiveram as suas expectativas concretizadas. Para o bem da verdade, essa foi a
única vez que Pedro saiu ileso do cárcere. Todas as outras inúmeras vezes que
Lucas narrou a prisão de um discípulo de Jesus, esta pessoa morreu ou saiu de
lá com as marcas da tortura.
Fica para nós e exemplo daquilo em que a oração não falha
nunca. A relação da entrega incondicional, quando estamos diante do impossível,
e a confiança naquele que nos ensinou a orar dizendo: Seja feita a tua vontade.
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