O sol dos maus e a chuva dos injustos

dispensa legenda, Luciana Gama Muniz
Para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Mateus 5.45

No diálogo em que Jesus trata de uma das condições imprescindíveis para nos tornarmos filhos de Deus, o verbo é esse mesmo: tornar. Ele cita dois fenômenos naturais sobre os quais as opiniões podem divergir drasticamente dependendo da época ou do local. Se analisássemos a ambos tendo em vista apenas as condições climáticas da Palestina veríamos que a chuva por lá é muito bem vinda em qualquer tempo, por sua vez o sol, nem tanto. Contudo, em outros lugares, como nos países de baixas temperaturas, o sol se torna uma dádiva inominável. Já a chuva por lá quase nunca é vista com bons olhos.

O que à primeira leitura pode parecer uma indiscriminada distribuição de bênçãos, pode também vir a ser um dos mais intrincados desafios à nossa vida no evangelho, posto que nem mesmo o mais fiel dos cristãos está permanentemente preparado ou em condições ideais para receber tanto o sol quanto a chuva. No emaranhado de situações em que vivemos, o que dizer, então, do sol dos maus e da chuva dos injustos? Apareceriam para eles também sob a forma de bênçãos dependentes da circunstância, da hora ou do local?

Meu pai sempre dizia: cuidado com o que você pede a Deus, ele pode vir a te conceder. Mais do que receber a bênção certa no momento certo, devemos, segundo meu pai, estarmos sempre preparados para fazer o melhor uso possível da bênção, da forma em que ela se apresenta naquela hora. O mau uso da bênção pode muito bem transformar pessoas boas em gente má e homens justos em pessoas injustas, pois discernir se o teor da bênção é uma coisa que o mau e o injusto dificilmente terão capacidade fazer.

É interessante como o ponto de vista pode mudar, principalmente em se tratando das manifestações de Deus na nossa vida. O que recebemos como um inusitado milagre pode muito bem ser visto como uma feliz coincidência pelos olhos de um incrédulo. Da mesma forma, o favor imerecido, para ele, não vai passar de um caso de sorte momentânea.

O que Jesus realmente quis deixar claro no seu ensinamento é que para caminharmos em direção à perfeição de Deus, além de amar os inimigos e orar pelos que nos prejudicam, se faz necessário um discernimento total das coisas que estão acontecendo à nossa volta. Uma chuva após uma tempestade ou o sol escaldante quando nos encontramos no deserto jamais poderão fazer com que percamos o rumo proposto por Jesus para nós. Paulo dizia em Romanos 5: também nos alegramos nos sofrimentos, pois sabemos que os sofrimentos produzem a paciência, a paciência traz a aprovação de Deus, e essa aprovação cria a esperança. Essa esperança não nos deixa decepcionados, pois Deus derramou o seu amor no nosso coração, por meio do Espírito Santo, que ele nos deu.

A esperança que não decepciona geralmente não nos vem através dos poucos momentos de paz e harmonia que encontramos no recolhimento espiritual. Ela é normalmente fruto dos inúmeros desafios em que a vida cristã nos confronta com a realidade. O sol e a chuva podem parecer bons, maus ou indiferentes aos olhos que quem não crê. Mas sob o ponto de vista do cristão, eles serão sempre oportunidades claras que Deus nos concede para fazer brilhar um pouco mais a chama divina que ele mesmo semeou em nós. Isso sim pode fazer toda a diferença.

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