Davi chora a morte de Absalão, Marc Chagall |
Uma antiga composição popular, que levou o título de Sua estupidez,
e que foi muito bem interpretada pela cantora Gal Costa, nos expõe uma verdade
que, tanto como pessoas e como cristãos deveríamos estar mais atentos, sob a pena
de incorrermos em erros irreparáveis e pecados dos quais dificilmente nos
perdoaremos. O que fatalmente acontece com quem toma decisões na vida sem
pensar, como reza a letra da música, é sair ferido, assim como ferir todos à
sua volta. As decisões que são tomadas no calor de uma discussão, na calada de
uma noite mal dormida, no âmago do ressentimento ou com intenções vingativas não
somente abrem mais ainda as feridas no coração já traumatizado, como também
colocam enormes obstáculos no caminho que possibilitaria uma volta ou uma
reparação.
A resposta que o autor dá a questão, possivelmente baseada
na sua própria experiência, nos remete ao antigo chavão: conte ao menos até três, e se precisar conte outra vez. Não sei ao
certo se esta solução pode reverter a situação nos instantes finais, ou se
para evitar que tomemos decisões precipitadas deveríamos antes trilhar o longo
caminho do aprendizado que Paulo chamou de o fruto do Espírito, cuidadosamente
descrito em Gálatas 5: amor, alegria,
paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio
próprio, contra os quais não há lei ou possibilidade alguma de contra indicação.
Ou seja, a Palavra de Deus nos incita a resolver as questões mesmo antes que elas
surjam. Uma coisa que confessadamente não consigo fazer.
Em uma rápida análise poderíamos concluir que o mundo de
hoje já não comporta uma infinidade de tipos de atitude, nas quais, vez por
outra, somos flagrados ou que frequentemente flagramos. Mas é um fato concreto
que elas colocam cada vez mais os infratores sob os holofotes da opinião
pública. Nada mais passa em branco. Aconteça o que acontecer, mesmo que seja no
mais obscuro recanto do nosso planeta, o momento presente corrobora fielmente
com as palavras de Jesus, o Cristo, bem frisadas nos evangelhos: pois nada há encoberto, que não venha a ser
revelado; nem oculto, que não venha a ser conhecido.
É mais que sabido também que essa não é uma lógica da qual o
Cristianismo detém a exclusividade ou sequer a iniciativa. Esse é um legado da cultura
milenar de todas as civilizações que levaram o estudo da natureza humana a
sério, pois é uma coletânea de experiências bem sucedidas em todos os aspectos
da vida, bem como em todos os tipos de relacionamento. Não importa tanto onde
está escrito, o seu verdadeiro valor está no fato de que ela funciona, mesmo onde
as modernas terapias de autoajuda têm falhado.
A canção nos manda contar até três. Paulo nos ensina a deixarmos
que o fruto do Espírito, que já foi de alguma forma já foi semeado em nós, floresça
livremente nas suas variadas formas. Uma visa atenuar o problema, quando este
atinge o seu limiar crítico. A outra nos prepara para antecipar a vitória e o
livramento sobre muitos percalços dessa vida. A primeira vai deixar as sequelas
de uma situação resolvida na última instância. A segunda vai estreitar laços
que dificilmente seriam revelados fora do seu contexto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário