Jesus e o Legião, iluminura do XVI século |
Os padrões se revelam nas atitudes que temos uns para com os
outros. O ódio por exemplo. O ódio não é um luxo que se pode ter e depois
simplesmente se jogar fora. Assim como a raiva, a vingança é um espírito de
maldade que, uma vez instaurado, nos domina cada vez mais até nos destruir. Não
devemos nunca deixar de atentar para eles, caso contrário em pouco tempo
estaremos dominados como o Multidão foi dominado.
Essas emoções não são fruto da ação de um demônio externo que
toma conta de nós e sim a falta de amor e de perdão. É o rancor, a inimizade, o
desprezo, o ressentimento, que para nós têm um sabor tão especial que nem
pensamos por um segundo em largar. Nós acostumamos tanto com essas emoções que elas já nos agradam.
Esse é o perigo que corremos. Esse é o nosso espírito mau. É esse é que nos
domina. E quem é responsável por ele somos nós mesmos.
Nesse versículo nove, citado acima, Jesus perguntou como ele se chamava e a
resposta dele é muito interessante: somos
muitos. Esse homem atormentado estava tentando a todo custo dizer quem ele
era. Ele estava buscando em algum lugar da sua mente a sua identidade própria.
Era a sua tentativa de descrever as forças malignas que agiam dentro de si. Forças que
ninguém de fora tinha conhecimento e que ele não se sentiu seguro para dizer a
mais ninguém, a não ser a Jesus. Meu nome
é Multidão, porque dentro de mim nós somos muitos, disse ele.
Ele era um sem número de desejos, de frustrações, de ódios,
de ressentimentos, de sonhos, de aspirações. Isso tudo se fortaleceu e se consolidou
dentro dele como uma força incontrolável, que o levou a não ter mais medo de
nada, nem lealdade a ninguém, nem amor a si mesmo. Um embaralhado de emoções
que nem ele mesmo entendia. Ele era uma multidão sem ordem: Meu nome é Multidão, e nós somos muitos.
Isso é que ele pensava de si mesmo.
Não nos parece familiar essa lista? A verdade é que nós
temos muito do Multidão. Em algum grau somos também Multidão e, na maioria das vezes, nem
sabemos que somos tantos. Nós queremos amar a todo mundo, assim como queremos ser
amados por todo mundo, mas cada vez mais nos tornamos odiosos e vingativos. Não
é uma decisão nossa, mas de alguma coisa que age dentro de nós e que não nos
deixa fazer o que queremos. Sempre foi da nossa vontade nos interessarmos pelas
outras pessoas, mas descobrimos que até mesmos os nossos atos mais generosos
são simplesmente uma camuflagem do nosso amor próprio. Tudo que fazemos pelos
outros tem sempre uma segunda intenção. Nós queremos servir a Jesus Cristo, mas
ao mesmo tempo somos muito ambiciosos por poder e posição. Queremos seu
senhorio, mas ao mesmo tempo queremos também ter as coisas que podemos tocar e
saborear.
2 comentários:
Ô MEU AMIGO SERGIO
"Tudo que fazemos pelos outros tem uma segunda intenção." Não confunda desejo legítimo de ser amado com segundas intenções. É absolutamente impossível vivermos sem amor, sem nos amarmos e sem amarmos a alguém, exceto na loucura mais grave, como era o caso deste(s) gadareno(s).(Há divergência entre evangelhos).
Paulo nos fala de querer fazer o bem mas não conseguir. A Psiquiatria dá o nome de AMBIVALÊNCIA AFETIVA a esta questão. É a luta do bem e do mal, dentro de nós. Podemos sim fazer o bem pelo bem.
Quanto ao multidão há uma corrente séria, estudiosa que afirma ter sido ele POSSUÍDO por espíritos demoníacos, de fato. Não apenas por nossos demônios internos, nossas ambivalências.
É um longo assunto.
Abração, de Friburgo.
O texto está tratando de uma progressão do pecado, e é assim que, no pensamento cristão, ele alcança os limites extremos, como é o caso do Multidão.
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