Jesus na casa dos seus pais, John Everett Millais(1829–1896) |
O meu grupo de jovens costumava se plantar à porta da igreja em Vila Isabel, RJ, para dar notas de 1 a 10 às moças que passavam, segundo rígidos critérios da beleza física e apresentação. Porém, qualquer de um de nós que aparecesse com uma namorada, por mais linda que fosse, essa não obteria mais do que uma nota 7, pois pelo simples fato de estar com alguém desse grupo já lhe custaria a perda de 3 pontos. É mais ou menos assim que eu analiso o comportamento dos conterrâneos de Jesus. Eles nunca poderiam ter um conceito honroso com a respeito dele, porque eles eram os primeiros a se desvalorizarem. Nazaré era nada menos que o circo dos horrores de Israel. Um ditado muito conhecido na época assim dizia: Pode sair alguma coisa boa de Israel?
De onde Jesus tirou tão grande sabedoria? Sob a autoridade de quem ensinava daquela maneira? Seu pai não era José? Seus irmãos e irmãs não vivem entre nós? Perguntas feitas pelos que se nivelam por baixo, pois eles sabiam bem o tipo de educação que se aprendia ali e já haviam se condicionado a viver mergulhados até o pescoço no preconceito que há muito havia sido criado sobre eles. Mas como diz o meu mestre Jonas Rezende: Deus ri da nossa arrogância. Foi exatamente isso que fez fazendo seu Filho nascer logo em Nazaré da Galileia: riu de nossos conceitos e de todos os nossos preconceitos. Tudo o que podia foi feito para depreciá-lo e para levantar uma nuvem de preconceitos na mente das pessoas contra ele: Não é este o carpinteiro?
Os judeus tinham uma boa regra para a educação os jovens da elite. Eles eram educados no conhecimento da Lei, mas aprendiam também um ofício. Jesus estava designado a ser um rabi, mas aprendeu a profissão do pai, assim como Paulo, além de frequentar a escola rabínica, também era um fabricante de tendas, para que tivessem algum negócio para preencher seu tempo com, e, se necessário fosse, para obter o seu pão com. E era a partir daí que eles tinham que confirmar os seus ministérios. Eles teriam que honrar as atividade desprezadas para motivar aqueles que comiam do trabalho de suas mãos, embora fossem por isso olhados com desprezo.
Sou eu sim o carpinteiro, sou eu quem trabalho nas funções menos relevantes e a quem é entregue o encargo menos importante. Não se pode esperar que alguém que se reconheça como uma pessoa de suma importância na sociedade em que vive, seja sensível aos irrelevantes. Somente alguém que saiu da nulidade e que sentiu o desprezo tecer um rede inescapável sobre si pode saber o que o nazareno mais humilde e o pecador mais degradante precisa para se sentir aceito por Deus.
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