Eis o Cordeiro de Deus, Alexander Ivanov |
O título dessa meditação parece óbvio, mas, ao longo desta meditação, tentaremos ver se esta lógica é sempre observada pela igreja. Não fica para nós a impressão que a tendência natural é de sempre priorizarmos a lei, uma vez que não estaríamos de todo errado, pois todos conhecemos bem o zelo que Jesus demonstrou quanto aos preceitos legais impostos ao seu povo a partir da lei dada a Moisés. Preceitos esses que nasceram do consenso, do bem estar comum da paridade e da igualdade de todos diante da lei, o que é na linguagem jurídica chamado de direito consuetudinário.
O zelo de Jesus não se fez notar apenas pelas atitudes individuais, quando ele mesmo se empenhava quanto ao cumprimento integral e permanente da lei como o exposto no versículo acima. Mas também nas várias vezes em que recorreu ao texto da lei para calçar a sua mensagem. Da mesma forma, como ele declara, vemos também que a sua palavra e que seu ministério não tinham por finalidade a revogar a lei, mas sim para levá-la ao seu cumprimento pleno e perfeito.
No entanto, um olhar mais atento vai perceber que todo esse conjunto de regras e valores é válido até o exato momento em que vai de encontro ou, popularmente falando, bate de frente com a justiça do Reino de Deus. Por que a justiça para Jesus não é somente superior a todo e qualquer preceito de lei, como também se presta como único parâmetro válido para julgar a aplicabilidade da própria lei. Podemos ter essa certeza pelas tantas vezes que Jesus declarou abertamente: Ouvistes o que foi dito aos antigos? Eu, porém, vos digo.
Mas para que ainda não restasse qualquer suspeita, no Sermão da Montanha Jesus foi enfático e definitivo ao dizer que aquele que infringisse qualquer dos mandamentos seria o menor do Reino de Deus. Ou seja, entraria com uma participação bem aquém da esperada, mas ainda assim estaria dentro. Contudo, aquele cujo empenho na prática da justiça não fosse maior, e muito maior do que a dos escribas e fariseus, que na sua maioria era pessoas extremamente justas, esse não teria a mínima possibilidade de entrar nesse Reino.
Isso tem um impacto enorme na reflexão que fazemos sobre a nossa conduta pessoal e sobre o nosso relacionamento com Deus. Está mais do que comprovado que as motivações mais comuns das nossas orações são as bênçãos e a segurança, quando muito um pedido de perdão. E esse é um pensamento recorrente entre nós, posto que não importa sequer o tempo que separa uma oração da outra, ambas são invariavelmente começadas com um pedido e terminadas com de perdão por uma multidão de pecados, quando deveria ser diferente. A oração, principalmente a oração silenciosa, não pode nunca ficar divagando sobre assuntos comuns e muito menos ser uma infindável lista de petições. É nessa oração que encontramos a hora propícia para dizermos: fala, Senhor, que o teu servo ouve! É a hora de confrontarmos a nossa justiça com a justiça divina, que não somente abre as portas do Reino, mas que é o caminho pelo qual se chega a ele.
Esse é o grande diferencial entre aquele que busca a salvação pessoal e aquele que se empenha na obra de Deus de trazer de volta para si o mundo. Por essa razão que Paulo, sem dúvida o maior de todos os apóstolos, deixou para o nosso julgamento e análise uma instigante escolha pessoal, e que ela venha a servir de fechamento e de complemento para essa meditação: Eu preferiria me perder, até mesmo ser amaldiçoado, a perder aqueles pelos quais Cristo morreu. Romanos 9.3. Mais recentemente Billy enfatizou: A Bíblia não manda que os pecadores procurem a igreja, mas ordena que a igreja saia em busca dos pecadores.
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