Grande
parte da humanidade parece compor uma verdadeira legião em fuga desesperada. De
fato, quando a nossa vida se torna como uma panela de pressão sem válvula de
escape, somos tentados a experimentar o doloroso desejo de evasão. Aí estão as
drogas, o sexo sem amor, a velocidade vertiginosa, os estudos, o fascínio do
computador, os negócios, a trágica saída do suicídio... e mesmo - é preciso que
se diga - um tipo alienante de religião.
Davi, quando escreveu este salmo, vivia um momento muito delicado de sua vida. Ele diz: estremece-me no peito o coração, terrores de morte me salteiam; o horror se apodera de mim.
Davi, quando escreveu este salmo, vivia um momento muito delicado de sua vida. Ele diz: estremece-me no peito o coração, terrores de morte me salteiam; o horror se apodera de mim.
Parece
a descrição da síndrome do pânico.
O salmista
não usa nenhuma das formas de fuga mencionadas. Nem drogas, nem sexo desbragado,
nem negócios, nem uma religião de escape.
Mas
leia o seu texto com atenção e você vai perceber que o sonho do rei está
marcado pela fuga. Ele quer asas. Exilar-se no deserto. Esconder-se dos
traidores que o cercavam. Em uma palavra, em vez de enfrentar, como governante,
a banda podre do seu povo, o salmista se concede o desejo de fugir. Afinal, ele
não era feito de ferro. Um homem excepcional, mas um homem. E um homem em
crise. Especialmente um homem amargurado, sem saber em quem confiar. Seu
lamento é comovente: com efeito, não é inimigo que me afronta; se o fosse eu o
suportaria; nem é o que me odeia quem se exalta sobre mim, pois dele me afastaria,
mas és tu, homem meu igual, meu
companheiro e meu íntimo amigo. Juntos andávamos e juntos nos entretínhamos, e
íamos com a multidão à casa de Deus.
Muitas vezes não é essa também a nossa situação?
Verdadeira ilha cercada de ameaças e desespero por todos os lados... Vicente
Celestino cantava: cada parente e cada amigo era um ladrão. E você percebe que
tudo o que aconteceu com o salmista também pode nos suceder, e assim
empurrar-nos para algum tipo de fuga.
Mas, se somos uma geração que, em grande parte, busca
fugir, a verdade é que não conseguimos escapar.
Não podemos nos evadir de Deus. Caim bem que tentou,
mas teve de confrontar-se com a pergunta divina: onde está o seu irmão? O
próprio salmista, em outro poema, pergunta: Para onde fugirei da tua face? Para
onde me ausentarei do teu Espírito? Se subir até aos céus, eis que tu aí
estás; se no Sheol fizer a minha cama, eis que tu estás aí também; se eu tomar as asas da
alvorada e me deter nos confins dos mares, ainda lá haverá de alcançar a tua
mão.
Fugir não é possível. Precisamos enfrentar os nossos
problemas com coragem. Até porque estamos emparedados. Sem escapatória. Fugir
de Deus, por outro lado, representaria, se fosse possível, perder o rumo de
nossa vida, embaralhar o nosso destino. O mesmo Davi que se mostra tão sofrido
e confuso neste salmo encontrou a saída, que partilha conosco, em outro de
seus belos poemas: Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele e o mais ele
fará.
Por que não seguir a luminosa trilha da sua
experiência?
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