Jesus diante de Caifás, Mathias Storm |
Texto do rev. Jonas Rezende
O Peer Gynt, de Ibsen, descreve uma cena que me emociona. Depois
de tanta busca e desencontros, de equívocos e de saudade, Peer Gynt volta à sua
terra, ao ponto de partida, bem mais velho e sofrido. E, ao desmanchar uma
cebola vagarosamente, confessa: minha vida é como esta cebola; só cascas, sem
conteúdo. Coloquem isso em meu epitáfio.
Sinto que por fim, ao tomar consciência de que é casca, Peer
Gynt começa a descobrir seu verdadeiro núcleo, o cerne da sua existência.
Neste poema, o salmista me passa a mesma impressão. Suplica
mais uma vez por libertação, como também acontece conosco: responde-me segundo
a tua fidelidade, segundo a tua justiça. Queixa-se da impiedade de seus
inimigos: arrojam por terra a minha vida;
têm- me feito habitar na escuridão, como aqueles que morreram há muito.
Confessa que está abalado: dentro em mim esmorece o meu coração. Tem
saudade do passado: lembro-me dos dias de outrora. Pede urgência na punição dos
que infernizam sua vida: a ti levanto a
minha mão; minha alma anseia por ti, como a terra sedenta. Dá-te pressa,
Senhor, em responder-me... Livra-me, Senhor, dos meus inimigos.
Mas, em nenhum momento, Davi se esquece de que não há, aos
olhos divinos, nenhum justo. Assim, ele também não o é. Abre-se então com
honestidade diante do Senhor: ensina-me a
fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por
terreno plano. Vivifica-me, Senhor, por amor do teu nome.
Sempre tive e ainda tenho uma profunda admiração por Bertolt
Brecht. Vivo a citar seu pensamento desde a minha juventude. Encanta-me a genialidade
dos seus aforismos; a sensibilidade de suas peças teatrais; a maneira, até
pedagógica, de ensinar o oprimido a se organizar e conquistar os seus direitos,
como fica claro em Mãe coragem; a oportuna descoberta de uma técnica teatral
conhecida como distanciamento, que nos leva a refletir melhor sobre as ideias veiculadas
no palco.
Por causa dessa grande admiração, fiquei assustado com a sua
biografia escrita por John Fuegi, A vida
e as mentiras de Bertold Brecht.
O autor, que estuda o dramaturgo há anos, é fundador da
Sociedade Internacional de Brecht. E, com essas credenciais, revela que o escritor
não era correto com os colaboradores, mas os manipulava. Sua postura poderia
ser identificada como a de um antissemita que justificava o extermínio dos
judeus. Teria assinado trabalhos escritos quase completamente por suas
amantes... E vai por aí.
Espero que tudo não passe de uma confusão ou de
sensacionalismo para vender livros, marketing. Caso, porém, se confirmem as denúncias,
eu pergunto: de que adianta a aura de gênio socialista, se a vida se faz um
engodo; se o homem que defende os destituídos, e até quer aparecer como pobre,
tem dinheiro na Suíça, onde pretende construir uma verdadeira mansão? Jesus
Cristo diria com dureza: túmulo caiado.
E o nosso povo criou um ditado de profunda sabedoria: por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento...
O salmista Davi assume a posição correta. Ele sabe que só
quem se reconhece pequeno pode crescer. Só existe progresso espiritual com base
na verdade.
Jesus disse em uma de suas caminhadas: vocês conhecerão a verdade e a verdade libertará vocês.
Por que não acreditar?
Um comentário:
Caro amigo Sergio
De vez em quando lembro neste blog que Jesus ensinou que a Verdade que nos liberta, é a certeza de que somos almas viventes. Nossa ESSÊNCIA é divina. Se conseguirmos VIVENCIAR este fato seremos libertos, porque conseguiremos AMAR mais e melhor a qualquer um.
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