Os mortos na Bíblia

Bem aventurados os mortos, autor desconhecido, século XVI
A declaração mais firme e mais corajosa sobre a morte na Bíblia não nos vem através dos livros canônicos, e sim de um livro que até bem pouco tempo era chamado de apócrifo, o livro da Sabedoria. Essa pérola que a tradição atribui a Salomão possui fortes indícios que foi escrita entre os anos 100 e 20 antes de Cristo, por judeus de Alexandria, no Egito.

Nota-se nele não somente o intelecto da língua grega, como o seu estilo, mas também o reflexo das escolas filosóficas e dos costumes da Grécia pagã. A narrativa, contudo, encontra seu maior sentido na perseguição empreendida por Ptolomeu Alexandre, e depois por Ptolomeu Dionísio, em virtude das insurreições judaicas acontecidas no século primeiro antes da nossa era.

O livro é citado nominalmente várias vezes no Segundo Testamento, haja vista as relações que temos entre:
Sabedoria 12.12-22 com Romanos 9.19-23;
Sabedoria 9.15 com II Coríntios  5.4;
Sabedoria 3.5-6 com l Pedro 1.6-7;
Sabedoria 7.25-26 com Hebreus 1.3;
Sabedoria 7 com João 1.

Para o bem da verdade, o autor fala e escreve nos capítulos 7 a 9 como se fora Salomão, rei de Israel, que reinou em Jerusalém no séc. X a. C.  E é por isso que o livro recebeu o título de Sabedoria de Salomão. Mas isto não passa de artifício literário comumente empregado nas antigas literaturas, que visava a dar ao texto maior autoridade e atração, pois pegava a carona de um ilustre personagem da Bíblia. Este artifício não compromete autoridade divina do livro, nem a sua inspiração, mas, como já vimos, pelo uso que fizeram dele os autores do Segundo Testamento, os quais, não somente o citaram nominalmente, mas escancaradamente apropriaram-se dos seus pensamentos.

Nesse dia em que é celebrado o dia de Finados, também vou me permitir valer deste precioso texto e usá-lo como parâmetro para a nossa meditação. Deixemos que o Salomão, não o rei, mas o iluminadíssimo autor do livro da Sabedoria nos inspire e nos conforte nesta significativa data do nosso calendário cristão. Data em que lembramos com saudade e que homenageamos os nossos entes queridos que já não estão mais entre nós, mas que nos legaram todo o sentido da vida, do que somos e do conhecimento que temos hoje.

Sabedoria 3.1-12
O destino do justo e do ímpio

Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará.
Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace é julgado como uma desgraça.
E sua morte como uma destruição, quando na verdade estão na paz!
Se aos olhos dos homens suportaram uma correção, a esperança deles era portadora de imortalidade,
e por terem sofrido um pouco, receberão grandes bens, porque Deus, que os provou, achou-os dignos de si.
Ele os provou como ouro na fornalha, e os acolheu como holocausto.
No dia de sua visita, eles se reanimarão, e correrão como centelhas na palha.
Eles julgarão as nações e dominarão os povos, e o Senhor reinará sobre eles para sempre.
Os que põem sua confiança nele compreenderão a verdade, e os que são fiéis habitarão com ele no amor: porque seus eleitos são dignos de favor e misericórdia. 
Os ímpios serão castigados pelos seus próprios raciocínios: desprezaram o justo e se afastaram do Senhor;
Infeliz de quem despreza a sabedoria e a instrução: vazia é a sua esperança, inúteis seus afãs e suas obras;
Néscias são suas mulheres, depravados seus filhos e maldita a sua posteridade.

Palavra do Senhor.

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