O que é VIRGINDADE?

A Virgem e o Cordeiro, Bouquereau em 1903
Em diversas religiões antigas a virgindade tinha um valor sagrado. Deusas como Anat, Artemis ou Atenas eram chamadas de virgens, mas com objetivo de realçar a sua eterna juventude e vitalidade. Somente a revelação cristã viria mostrar a plenitude do sentido religioso dessa palavra: a fidelidade de um amor exclusivo a Deus. Na perspectiva de aumento e crescimento da população, os antigos consideravam que a virgindade era como a esterilidade, uma verdadeira humilhação: Ela concebeu, deu à luz um filho e disse: Deus me tirou o meu vexame. (Gn 30.23) 

Contudo, a virgindade antes do casamento era muito estimada. Os sacerdotes só podiam se casar com virgens: Não se casarão nem com viúva nem com repudiada, mas tomarão virgens da linhagem da casa de Israel ou viúva que o for de sacerdote. (Ez 44.22) Mas esta era apenas uma preocupação pela pureza ritual, não pela virgindade como tal. Tornando fecundas as que eram estéreis, Deus quer mostrar que os portadores da promessa são gerados pela sua Onipotência, e não por um acidente genético.

Paralelo à virgindade corre a continência voluntária. Jeremias, por ordem de Deus, teve que renunciar ao casamento. Os essênios a praticam, sobretudo por uma preocupação de pureza legal. Mas há exemplos, como o de Judite, que manteve a sua viuvez como penitência, como o de Débora, que optou pela virgindade para ser mãe de todo o seu povo, e como o de Ana, que se recusou casar novamente para dedicar-se inteiramente a Deus.

Os profetas chamam de virgem iludida os países que afrontaram o povo de Deus: Desce e assenta-te no pó, ó virgem filha de Babilônia; assenta-te no chão, pois já não há trono, ó filha dos caldeus, porque nunca mais te chamarás a mimosa e delicada. (Is 47.1) Este adjetivo é dado também a Israel, para mostrar que sua virgindade e que sua infidelidade era flagrante: A quem afrontaste e de quem blasfemaste? E contra quem alçaste a voz e arrogantemente ergueste os olhos? Contra o Santo de Israel. (Is 37.23)

No Segundo Testamento, a virgem Israel passa a se chamar Igreja. O tema da virgindade está contido na relação matrimonial entre Cristo e sua Igreja: Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. (Ef 5.25) A Igreja de Corinto, desviada da doutrina que lhe foi ensinada, é tratada por Paulo como uma virgem pela qual Deus tem ciúme: Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo. II Co 11.2) Por isso, luta incansavelmente para que eles mantenham a integridade da sua fé.

A virgindade de Maria é um capítulo à parte. Antes de tudo, ela representa o elo entre as duas Alianças: ela é a filha de Sião pela qual se inicia a virgindade da Igreja. A mãe de Jesus é a única mulher na Bíblia em que o título de virgem se aplica integralmente. Maria, pela sua virgindade, assume a sorte das mulheres que não puderam conceber, e a humilhação transforma em bênção. Na Anunciação, ela que já estava inclinada a se reservar para Deus, recebe do anjo a notícia de que será mãe e virgem ao mesmo tempo. Mesmo sem entender a extensão da sua responsabilidade, aceita essa vocação pela submissão a Deus. Nela se consuma a preparação do povo de Deus que se iniciou no Primeiro Testamento. Ela é mais do que Eva, pois não é esposa e sim mãe do novo Adão.

Paulo, como opinião própria, diz que é preferível a virgindade ao casamento, pois os que permanecem virgens não tem o coração dividido. Mas Jesus fala dos eunucos que assim se fizeram pelo Reino de seu Pai, dizendo que eles entenderam que somente este Reino justifica esta drástica decisão: Porque há eunucos de nascença; há outros a quem os homens fizeram tais; e há outros que a si mesmos se fizeram eunucos, por causa do reino dos céus. Quem é apto para o admitir admita. (Mt 19.12) Este é um preceito que dá a virgindade uma dimensão escatológica de uma Igreja, que como uma virgem espera acordada e ansiosa pela vinda do seu noivo. Isso faz com que todos os conceitos de virgindade e casamento se mantenham restritos a esse mundo, porque somente na Jerusalém Celeste os que são de Cristo se farão inteira e alegremente virgens.

Ps. Os conceitos aqui emitidos nas postagens cujo título se inicia por "O que é..." são de minha inteira responsabilidade, porém, são resumos extraídos da opinião de teólogos e biblistas renomados, e estão exclusivamente relacionados ao contexto bíblico e às situações referidas por ele. Não há qualquer predisposição em aviltar paradigmas sociais ou culturais, doutrinas das várias denominações cristãs, bem como o pensamento das demais religiões.

Nenhum comentário:

ads 728x90 B
Tecnologia do Blogger.