Você não está sozinho

Mas eu deixarei sete mil pessoas vivas em Israel, isto é, todos aqueles que não adoraram o deus Baal e não beijaram a sua imagem. Leiam I Rs 19.1-18

A crise de Elias, Frederic Leighton (1830-1896)
No tempo do profeta Elias, Israel vivia uma situação muito parecida com a que vivem hoje o Cristianismo e a sociedade brasileira. Quaisquer olhos críticos intuiriam claramente que nos três casos o problema se inicia e se estabelece através de uma enorme inversão de valores. E como sempre acontece, quando são apenas uns poucos aqueles que enxergam o mal comum, são estes os primeiros a se sentirem como um peixe fora d’água: abandonados, sozinhos e distantes do seu habitat pela inconformidade com a situação.

Quando estava refugiado em uma caverna no deserto, Elias foi alertado por Deus que ainda havia, escondidos no meio do povo, aqueles que, temerosos pelas retaliações que a realeza fatalmente levaria a cabo, não se deixaram enganar, e aguardavam apenas a hora propícia de manifestarem a sua indignação contra toda aquela inconcebível situação. Deus fez ver a Elias que ele estava enganado, e que não estava sozinho.

A sociedade brasileira, tomada de repente por uma consciência coletiva de indignidade, está nas ruas dando o seu grito de basta em meio à repressão de uma policia idiota, que ainda não descobriu que vem sofrendo do mesmo mal, e que também vem pagando o mesmo preço que a ganância dos nossos governantes tem exigido de nós, tentam, com o risco das suas próprias vidas, defender o indefensável: a injustiça que há muito tempo tem assolado quase que a totalidade da população deste país. A sensação que temos hoje diante destas manifestações é que cada brasileiro está descobrindo que não está sozinho na sua justa indignação.

É hora de nos perguntarmos: a Igreja de Jesus Cristo está esperando o quê? Até quando vamos ter que aturar estes falsos pastores se servindo da carne e do sangue do rebanho, em vez de guiá-lo a campos verdejantes e a águas tranquilas, como preconiza o salmo? Até quando vamos conceber que a Palavra incorruptível do nosso Deus esteja servindo para maquinações ilusórias e cada vez mais extraídas de um paganismo absurdo, o que tem levado esta Santa Palavra ao escárnio e descrédito daqueles que nela não creem?

Uma coisa posso lhes afirmar com certeza dentre as minhas pouquíssimas convicções: não estamos sozinhos. Deus tem guardado no meio da sua Igreja os tais “sete mil” que não dobraram os seus joelhos ao ilusionismo apostólico, e cuja língua não confessaram o deus da retribuição, da falcatrua e da bênção egoísta como seu senhor. Podemos viver nesta certeza: escondidos no meio dos “ungidos” Deus tem preservado a sua reserva moral naqueles em que a indignação não é mais suportável.

Temos que reconhecer que tanto em Israel quanto na população brasileira se fez necessário que uma faísca se acendesse para atiçar em todos o fogo do desejo de lutar para alcançar os mesmos propósitos. Aqui no Brasil foi a maquiavélica esperteza do governo em se aproveitar da distração criada pela Copa das Confederações para aumentar em todo o país o preço das passagens. Com o profeta Elias já foi diferente. Foi preciso que as maiores forças da incontrolável natureza passassem diante dele para que ele percebesse na brisa suave a voz de Deus desafiando-o a voltar e desencadear o enfrentamento contra o mal.

Minha pergunta ao final desta breve meditação não espera outra resposta a não ser aquele que eu mesmo tenho que dar. Penso que cada indignado, da mesma forma, deve esperar de si essa resposta: O que estou fazendo para que o vento de Deus varra definitivamente esta falta de senso cristão que se instalou indevidamente no seio da sua Igreja?


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