O que é NOME?

Saul e a feiticeira de En-Dor, Alessandro Magnasco
Na concepção dos povos primitivos o nome não é apenas aquilo que identifica alguém distinguindo-o dos outros. É uma parte essencial da pessoa, porque, segundo o pensamento desses povos, quem não tem nome não existe. Qualquer elemento animal, vegetal ou mineral que não tenha um nome não passa de um ser insignificante. O autor de Jó os classifica condignamente: ... cujos pais eu teria desdenhado de pôr ao lado dos cães do meu rebanho. São filhos de doidos, raça infame, e da terra são escorraçados (Jó 30.1b e 30.8). Julgavam também que o nome além da essência deveria designar um atributo à pessoa. E é essa estreita ligação entre o nome e a pessoa que explica as diversas considerações a seguir.

O nome era como uma imagem perfeita da pessoa, onde estava o nome, ali estava a pessoa. Por que serias como homem surpreendido, como valente que não pode salvar? Mas tu, ó Senhor, estás em nosso meio, e somos chamados pelo teu nome; não nos desampares (Jr 14.9). Isso muito explica o mandamento de não se tomar o nome de Deus em vão.

O nome também era uma garantia de posse. Quando o nome de alguém era pronunciado sobre algo, este passava a ser de sua propriedade. Quando uma mulher pedia que o nome de um homem fosse pronunciado sobre ela, estava declarando o desejo de tê-lo como senhor. Sete mulheres, naquele dia, lançarão mão de um homem, dizendo: Nós mesmas do nosso próprio pão nos sustentaremos e do que é nosso nos vestiremos; tão somente queremos ser chamadas pelo teu nome; tira o nosso opróbrio (Is 4.1).

Funcionava também como salvo conduto, pois se o nome de uma autoridade fosse pronunciado sobre uma pessoa, era o sinal de que ela estava sobre a sua proteção. Era muito comum antes do conflito corpo a corpo que os guerreiros ameaçassem seus oponentes com o nome dos seus deuses. É a partir desta prática que adjetivos que conferiam poder e temor foram agregados ao nome de Deus: Poderoso de Jacó, Leão de Judá, Senhor dos Exércitos são alguns deles. Além disso, o nome também poderia ser uma garantia contra o mal sobrenatural e um meio eficaz de expulsá-lo. Falou João e disse: Mestre, vimos certo homem que, em teu nome, expelia demônios e lho proibimos, porque não segue conosco (Lc 9.49).

Contudo, a influência que o nome exerce sobre a pessoa também foi usada para fins escusos. Saber o nome de alguém ou dar nome a alguém significava possuir pelos poderes sobre esse alguém. Exatamente por isso que Deus se recusa a dizer o seu nome a Moisés. Esta relação era da mesma forma muito útil à prática da feitiçaria, pois relacionar o nome de alguém a alguma divindade má era o mesmo que atrair maldição sobre ela.

Todas essas ideias que fluem da Bíblia sobre jurar, abençoar, expulsar demônios, profetizar, falar, curar e batizar pronunciando ou invocando o nome de Deus ou de Jesus requerem muito mais do que simples balbuciar de palavras. Requerem principalmente estar ligado a ele e estar de acordo com seus princípios básicos, aquilo que chamamos de sua vontade. A responsabilidade de usar esse nome é incomensurável, porque dependendo do tamanho de universo que se é capaz de influenciar, o direito pode ser corrompido e a justiça negada. Tanto no passado como no presente atrocidades foram e são cometidas em nome de Deus. Não sou daqueles que pregam a ira de Deus, mas quando vejo como o seu nome está sendo achincalhado, e volto os olhos para o que disse o profeta Ezequiel, confesso que tenho que ficado no mínimo apreensivo. Mas tive compaixão do meu santo nome, que a casa de Israel profanou entre as nações para onde foi. Dize, portanto, à casa de Israel: Assim diz o Senhor Deus: Não é por amor de vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes. Vindicarei a santidade do meu grande nome, que foi profanado entre as nações, o qual profanastes no meio delas; as nações saberão que eu sou o Senhor, diz o Senhor Deus, quando eu vindicar a minha santidade perante elas (Ez 36.21-23).

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