O que é MALDIÇÃO?

Balaão e o anjo, Henry Davenport (1836-1909)
Para os antigos maldição e bênção eram palavras mágicas que operavam o bem e o mal nas pessoas. Eram frequentemente usadas como instrumento de defesa ou de punição. O uso deste artifício era bastante difundido no oriente médio, e Israel não se absteve de praticá-lo. A diferença é que os povos semitas atribuíam o poder de conferir bênção e maldição à divindade que cultuavam, e não a amuletos ou locais próprios. 

A maldição, mais ainda do que a bênção, era considerada eficiente. Uma vez que era promulgada, ela se cumpriria, ainda que seja depois de longos anos. Vem, pois, agora, rogo-te, amaldiçoa-me este povo, pois é mais poderoso do que eu; para ver se o poderei ferir e lançar fora da terra, porque sei que a quem tu abençoares será abençoado, e a quem tu amaldiçoares será amaldiçoado (Nm 22,6), daí vem a proibição explícita para que Balaão não amaldiçoasse Israel: Então, disse Deus a Balaão: Não irás com eles, nem amaldiçoarás o povo; porque é povo abençoado (Nm 22,12). Por uma bênção contrária ou pela benção de Deus a maldição poderia ser privada da sua força. A algumas pessoas, como os deficientes auditivos, estavam proibidos por lei de serem amaldiçoados, pois uma vez que eles estavam impedidos fisicamente de ouvir o pronunciamento da maldição, não poderiam defender-se dela.

A maldição transformou-se num eficiente instrumento do poder, pois quanto maior a influência do amaldiçoador, tanto maior era o temor à sua maldição. Amaldiçoava-se por qualquer motivo. Amaldiçoava-se tanto a um ladrão para que ele confessasse, como a uma adúltera para admitir o seu adultério. E esta não ficava restrita apenas ao amaldiçoado, mas estendia-se também aos seus bens, à sua família, à sua tribo ou cidade. Não era incomum o amaldiçoado ser forçado a emigrar, deixando para trás todas essas coisas, pois o amaldiçoado contaminava a terra. Se alguém houver pecado, passível da pena de morte, e tiver sido morto, e o pendurares num madeiro, o seu cadáver não permanecerá no madeiro durante a noite, mas, certamente, o enterrarás no mesmo dia; porquanto o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus; assim, não contaminarás a terra que o Senhor, teu Deus, te dá em herança (Dt 21.22-23).

Escrever maldições contra roubos ou violações de sepulcro ou nos marcos das portas era muito comum naquela região, assim como também era comum deixar prescritas algumas maldições no caso de alguém apostatar da fé em seu deus. A maldição atinge o seu momento crítico quando passa a ser instrumento de opressão ou de exploração, fazendo com que as pessoas permanecessem submissas através da obrigatoriedade de acatarem juramentos escritos em que amaldiçoavam a si mesmas, caso não de não cumprimento.

A teologia profética tenta de todas as formas mudar este quadro desolador. Primeiramente transferindo integralmente a Deus o poder de bendizer e de amaldiçoar, tirando este poder da força das palavras de quem quer que fosse. O poder mágico da maldição se torna inócuo enquanto Deus mantiver a sua bênção. Só ele pode proteger o justo e imunizar o desamparado. Amaldiçoem eles, mas tu, abençoa; sejam confundidos os que contra mim se levantam; alegre-se, porém, o teu servo (Sl 109.28). A profecia finalmente consegue converter a maldição em um delito contra Deus. Também não deixei pecar a minha boca, pedindo com imprecações a sua morte (Jó 31.30).

Mas ainda assim nada disso foi tão radicalmente transformador quanto a mensagem de Jesus Cristo, quando nos mandou não somente abençoar os inimigos e bendizer os perseguidores, mas exigiu que os amemos como a nós mesmos e que perdoemos as suas ofensas, inclusive as maldições. Jesus sabia bem que a maldição não tem qualquer poder, por isso não se preocupou com aqueles sobre quem as maldições eram lançadas, mas sim com os amaldiçoadores. Jesus teve compaixão destes, porque quem chega ao extremo de amaldiçoar o outro, está com o coração tão ferido que só pode ser curado pelo perdão e pelo amor. As prescrições do Primeiro Testamento sobre maldição foram escritas por inspiração para que conheçamos o que é uma vida sem a orientação de Cristo. Viver sob a opressão da possibilidade de ser amaldiçoado já é em si a própria maldição. Cristo se fez maldição por nós, para que nunca mais nos deixemos nos escravizar por superstições tolas de um passado distante, de uma vida pregressa ou de uma herança maldita.

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