O pai e a autoestima

Porque todos pecaram e destituídos estão da gloria de Deus. Rm 3,23
Davi lamenta a morte de Absalão, Dore 
Texto baseado em sermão do rev. Garrison.

Todos pecaram, esta a razão primeira do evangelho. Deus aceita o pecador por meio da fé que ele tem em Jesus Cristo. Ele concede isso a todos que creem e não há qualquer diferença entre as pessoas justamente por isso: porque pecaram e destituídos estão da gloria de Deus. Todos os homens pecaram contra Deus e todos os homens pecaram uns contra os outros, no fim todos somos pessoas feridas. Até os pais mais bem intencionados pecam contra seus filhos. Paulo diz neste texto que todos pecaram e que todos são vítimas do pecado de seus pais. Diz que todos nós fomos atingidos pelos erros dos nossos pais e pelos inúmeros valores errados da nossa sociedade. Somos inseguros e somos fracos, apesar de sermos pessoas arrogantes e orgulhosas. Então o que vamos fazer? Tudo isso justifica continuar a sermos o que somos? Claro que não. Justifica que culpemos nossos pais por isso? Também não. Justifica que culpemos a nós mesmos? Menos ainda. Então por que motivo Paulo faz questão de nos dar essa triste notícia? Parece-me que o objetivo único é estarmos conscientes dos nossos defeitos, aceitá-los como sendo a nossa realidade e começarmos a trabalhar nos aspectos da nossa realidade mais carente.

Porque todos pecaram e destituídos estão da gloria de Deus. A nossa estima própria, ou autoestima, geralmente tem origem nos nossos pais ou nas pessoas que exerceram sobre nós autoridade durante a nossa infância. Aquelas pessoas que não receberam amor suficiente ou que não se sentiram seguras eficientemente na sua infância, se veem na necessidade de terem que adquirir este senso de autoestima por meio de seus próprios esforços. É importante lembrar que nós não somos responsáveis pelo modo que fomos formados, e sim dali para frente. Somos responsáveis apenas pelo que seremos, pelo nosso próprio crescimento como pessoas. Então, como podemos crescer? Como podemos crescer na fé cristã? Como podemos crescer na amizade e na relação familiar? Insistindo nos complexos de inferioridade e nos aceitando deste modo, acrescentando um grau na nossa escala de aceitação? Subverter valores para que estejamos enquadrados satisfatoriamente? Diante dessa questão eu gostaria de destacar alguns aspectos do amor que tanto carecemos para o desenvolvimento de uma autoestima sadia.

Em primeiro lugar nós precisamos de aceitação. Os pensadores modernos dizem que nossa maior carência é a necessidade de aceitação. Nós precisamos nos sentir aceitos pela família, pelos amigos e pelo grupo social ao qual pertencemos, seja a igreja, o trabalho, os vizinhos etc. Numa entrevista na televisão um psicólogo falava na prisão com um assassino condenado. O criminoso era um rapaz culto que não tinha recebido qualquer tipo de amor e aceitação no lar em que nasceu, e pouco a pouco ele caiu no consumo e no tráfico de drogas. Lá ele foi recebido por um traficante que lhe ensinou como consumir e vender as drogas que ele fornecia. Ele conseguiu de imediato a aceitação daquele grupo, conseguiu um emprego e chegou a pensar até que tinha um futuro. Mas segundo o código do tráfico, cobiçou o cargo do homem que o acolheu nas drogas e o matou. O psicólogo perguntou-lhe o que ele estava pensando quando saiu de casa naquele dia. Disso o prisioneiro: Eu fui procurar aceitação. Eu fui procurar alguém que se importasse comigo. Já imaginaram como seria diferente a história desse rapaz se a sua família ou os seus amigos o tivessem dado, senão amor, pelo menos alguma forma de aceitação?

Vamos nos lembrar de que noventa e nove por cento de tudo que aconteceu conosco até os cinco anos de idade foi esquecido pelo nosso eu consciente. Particularmente, eu acho que é uma injustiça não nascermos adultos e termos que receber toda influência da qual não nos lembraremos nunca mais. Não posso me lembrar de quase nada do que me aconteceu na principal fase em que estava sendo formado. Eu não estava em condições de avaliar tudo aquilo que me aconteceu justamente nos cinco anos cruciais em que a minha personalidade foi moldada. Isso não é apelação ou teoria mas a pura realidade, porque o que produz a ferida, não é só o que acontece à criança, pior é quando ela percebe que está sendo ferida. Crianças que não recebem motivação ou reconhecimento e que são sempre criticadas sentem-se inferiores e inseguras. Elas não tem outro parâmetro para aferir o seu autovalor senão nas pessoas que lhes são mais importantes e mais próximas. Isso quer dizer, os próprios pais. Se elas não recebem o amor e a aceitação desejados elas se formam com o instinto precário de autoestima e invariavelmente concluem que não são amadas. Elas pensam que não tem valor. Claro, porque se tivessem valor os seus pais iriam amá-la, iriam abraçá-la, iriam cuidar dela, assim pensam elas. E assim elas desenvolvem um senso monumental de indignidade, de desonra e de inferioridade. Todos esses sentimentos possuem um denominador comum: fracasso, vergonha e culpa. Ao contrário, as crianças que nasceram amadas e se sentiram seguras pelos seus pais quase nunca experimentam estes sentimentos ruins e dificilmente desenvolverão um sentimento de autoestima baixa. O dr. Karl Menninger, grande autoridade do campo da medicina e da psiquiatria, disse o seguinte: O amor é o melhor remédio para a cura das doenças do mundo inteiro. (continua)

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