Perdido dentro de casa (final)

Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma, não acende a candeia, varre a casa e a procura diligentemente até encontrá-la? E, tendo-a achado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido. Eu vos afirmo que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende. Lc 15,8-10
A dracma perdida de James Tissot (1836-1902)
A parábola termina num tom de alegria. E, tendo-a achado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido. E para que ninguém se desviasse da verdadeira intenção Jesus ainda acrescenta. Eu vos afirmo que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende

Aqui Jesus devolve pela segunda vez consecutiva, a primeira havia sido na parábola da ovelha, a saia justa em que os fariseus queriam colocá-lo, pelo fato de encontrá-lo comendo e bebendo com publicanos e prostitutas. Só que desta vez numa relação de valores dez vezes maior, pois a perda não era mais uma em cem, e sim uma em dez. Só que desta vez numa relação familiar, pois não era concebido que um mestre em Israel fosse solteiro. Só que desta vez não mais na periferia da cidade, mas dentro das suas casas.

Jesus pergunta aos fariseus: Vocês gostariam de ser felizes como esta mulher da parábola? Vocês gostariam de amar realmente esta vida? Gostariam de se sentir como alguém que recupera algo que é importante para a sua vida, sem o que não podiam  ser felizes? Nesta parábola Jesus esta dizendo que não há outro caminho para se alcançar a felicidade fora daquele em que se divide a alegria da salvação com o homem ou a mulher que estão perdidos. Em que se compartilha a boa notícia da vida eterna em Cristo com aqueles que já não tem mais qualquer expectativa ou esperança nesta vida. Quando declaramos aos quatro ventos o quanto Deus tem nos amado, apesar do nosso egoísmo, da nossa indiferença, da nossa discriminação. De confessarmos a plenos pulmões que a despeito de nunca termos conseguimos viver a nossa vida como realmente desejaríamos, Deus nos aceita como somos e nos ama como se fôssemos seres humanos perfeitos e acabados.

Para todos os efeitos morais, a mulher tinha mais era que ficar calada e alegrar-se sozinha, pois assim, além de recuperar a sua moeda perdida, ela não daria qualquer sinal do seu desleixo em preservar o símbolo do seu amor. Ela não ficaria exposta aos comentários maldosos daqueles ou daquelas que não perdoariam a sua incapacidade de fazer o que toda boa esposa tem obrigação de fazer. Ela não dividiria a sua alegria com as outras mulheres, amigas e vizinhas que perderam suas joias e nunca mais as recuperaram. Nem um de nós iria louvá-la pelo seu achado sem antes recriminá-la pela sua perda. Mesmo sabendo disso ela não agiu assim. Ela entendeu que sua alegria era demasiadamente grande para ficar restrita a quatro paredes, por isso encheu-se de coragem para toná-la pública, apesar de saber do risco da humilhação, da desonra e do descrédito. Isso nós não fazemos não. Não corremos riscos desnecessários. Quando muito compartilhamos a alegria da nossa salvação com alguém que também já foi achado, com alguém que se sente como nós, isso quando fazemos.

Se vivêssemos no seu tempo e fôssemos procurar Jesus entre os achados, entre os de boa fama, entre os certinhos não íamos achá-lo não. Entre aqueles que tem alegria própria naquilo que são e no que tem, é mais do que certo que ele não estaria. Entre aqueles que encontraram alegria em Deus e a preservaram incólume dentro de si, também não. Se quiséssemos encontrar Jesus de nada adiantaria ir às catedrais iluminadas e lotadas de gente de boa fama. Lá estão aqueles já se esqueceram de que um dia foram achados, e que agora vivem como quem não perdeu nada, não sentem falta da nada, não precisam de mais nada. Estão prontos para serem arrebatados aos céus e continuarem gozando das bênçãos que já dispõem aqui na terra. Se quiséssemos encontrar Jesus teríamos que revirar a poeira e a lama para encontrá-lo entre os perdidos, os de má fama, os que não tem, aos nossos olhos, a menor possibilidade de salvação.

O propósito de irmos à igreja, de estudarmos a Palavra de Deus, de louvarmos o seu nome, de ficarmos em comunhão uns com os outros e com o próprio Cristo na ceia é de reacender o fogo de amor por nosso Senhor e pelos outros. E o sinal de que isto tudo está funcionando como realmente deve é a alegria compartilhada com aqueles que não foram à igreja, não estudaram a Palavra de Deus, não louvaram o seu nome e nem sentiram qualquer tipo de comunhão. Tem que ser como Deus disse a Jó: Quando as estrelas da alva, juntas, alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus. Alegrem-se comigo, pois eu encontrei a minha perdida. Porque todas as vezes que fazemos com e pelos pobres, ignorantes, aflitos, sozinhos e com gente de má fama, fazemos por ele e com ele.

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