Ressurreição hoje

Ressurreição de Cristo de Gregório Lopes (1490-1550)
A ressurreição não é um dogma de fé próprio do Cristianismo, outros credos antes dele já a acreditavam que seus deuses também podiam vencer os grilhões morte de uma vez para sempre. A grande maioria das religiões que criam na possibilidade da ressurreição fundamentou sua crença na observação do ciclo da natureza. Sua veneração por deuses especializados, a falta de conhecimento das leis naturais e a necessidade de alimento em terreno semiárido fizeram com que toda uma sequência de rituais fosse observada. A vida e morte dos vegetais e a fecundidade do gado e das pessoas ficou cada vez mais determinada pelo surgimento de certos astros, que era, em última análise, o responsável pela variação das estações climáticas.

Algumas outras religiões mais antigas, como a dos egípcios, já criam que a ressurreição da pessoa dependia tanto da sua conduta moral desta pessoa em vida, como da preparação do corpo para que este assumisse especificações necessárias à vida pós morte.

A fé cristã veio dar à ressurreição uma definição diferente das que as religiões citadas. Embora a ideia de que o filho de um Deus precise morrer no lugar de pecadores para levar a cabo este intuito deste Deus, também não seja exclusiva da fé cristã, ainda assim o Cristianismo também se diferencia destas. Zaratrusta e Apolônio de Tiana são exemplos desta aparente semelhança. Mas para efeito da nossa meditação neste dia seguinte à Páscoa, vamos ter em mente apenas a ressurreição de Jesus, e o quanto ela de distancia da crença popular.

Para muitos a ressurreição é simplesmente a volta de um morto à vida, mais ou menos nos padrões do que aconteceu a Lázaro. Com o avanço da medicina, que hoje consegue reanimar pacientes em estado de morte comprovada, este “milagre” tem se tornado mais popular, mas ainda assim a de se considerar a enorme distância que existe estre estas ressurreições e a de Jesus, o Cristo. A restauração de um debilitado a situações precárias, não tem nada em comum com a glorificação e exaltação do Cristo, que juntamente com a morte, vence todas as limitações naturais dos seres humanos. E é aqui que se encontra a primeira falha no entendimento dessa ressurreição. Muita gente acha que ao experimentar a ressurreição de Cristo em suas vidas, está plenamente habilitada a reivindicar para si a realização de si sinais e prodígios que até mesmo Cristo só foi capaz de fazê-los após à sua ressurreição. Entenda-se aqui arrebatamentos, telecinese, imaterialidade, glória e outros.
 
Outro aspecto é o que no tempo de Jesus se entendia por corpo e alma, em contrapartida ao que entendemos hoje. Nas Bíblias tradicionais dos setecentos e cinquenta e cinco vezes que aparece a palavra nêfesh, cuja tradução literal é garganta, seiscentas vezes a Septuaginta a traduziu por psyche, o que no Português mais se aproxima de alma. O que se pode concluir deste fato e a constatação de que em muito poucos versículos bíblicos a tradução desta palavra corresponde ao significado que realmente damos à palavra nêfesh. Em Gn 2,7 temos: Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser nêfesh vivente. Observe aqui por onde entra o sopro divino. Passa narina, subsequentemente vai para a garganta e esta passa a ter vida. Certamente aqui nêfesh não é alma e sim o conjunto que configura totalmente o homem que tem vida, particularizando o sinal mais visível, que é a respiração. Por isso é que para a Bíblia o homem não possui ou é possuído por um nêfesh, ele próprio é nêfesh e vive como sua vida como nêfesh, dirimindo de imediato qualquer dúvida quanto ao dualismo corpo e alma.

Este é um dado que pode esclarecer bem a diferença entre a ressurreição de Cristo e aquilo que normalmente chamamos de ressurreição. Vai para tumba um ser completamente destituído de reação. Deus levanta de lá um ser plenamente glorificado e livre de paixões e de limitações.

Para mim, a melhor declaração acerca da ressurreição de Cristo está no livro de Atos dos Apóstolos e nos foi dada pelo apóstolo Pedro. E quem melhor traduziu o que é alma no conceito humana foi o escritor Mário Quintana. Enquanto Pedro diz: Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. Ao que Mário Quintana acrescenta: Alma é a aquela coisa que nos pergunta se a alma existe.

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