A vitória do fracassado

Jim Caviezel e, Paixão de Cristo, 2004
Mais do que a efetiva realização de fatos previamente anunciados, o que mais surpreende na História são as profecias que obstinadamente teimam em não se realizar. Na virada do século XIX, quando Nietzsch anunciou ao mundo que Deus estava morto, não estava fazendo um solo, e sim se fazendo acompanhar de um bom número de vozes de intelectuais que acreditava que o progresso da ciência levaria ao declínio da fé religiosa, sendo o cristianismo o principal perdedor.


Bernard Shaw e H.G. Wells argumentavam que o século XX marcaria o fim da fase religiosa da História. No final do século XX só encontraremos Bíblias em museus, dizia Voltaire, o Pensador.
Passados cento e poucos anos, não somente o Cristianismo não morreu, como parece estar cada vez mais forte e cada vez angariando mais adeptos. A igreja Católica Romana conta hoje com um número bem superior a um bilhão de fiéis, e as outras denominações juntas já ultrapassaram a sua marca. Ou seja, um terço de toda a humanidade está de uma certa forma ligada a uma igreja cristã. Nos Estados Unidos, metade da população frequenta regularmente um local de culto, e na sua grande maioria uma igreja cristã. Mesmos nos países comunistas pode se observar um crescimento substancial da fé cristã. Em Moscou, onde funcionava Museu da Religião e do Ateísmo é hoje uma igreja ortodoxa repleta de fiéis. A casa em que Voltaire morava, onde profetizou negativamente sobre o futuro da Bíblia, é hoje a sede da Sociedade Bíblica Francesa, uma das maiores do Mundo.
Tudo isso começou com uma criança que nasceu humilde, em uma aldeia obscura do império romano. Esta criança de origem humilde, que se desenvolveu dentro dos limites do seu território natal, se tornou um líder religioso, atraiu um pequeno grupo de seguidores para a sua causa de não-violência, e, através de um julgamento injusto, foi sentenciado a uma morte vergonhosa e horrenda destinada exclusivamente a escravos rebeldes. À primeira vista a história de um fracasso. Algo que poderia passar para a História como mais uma bela intenção que não vingou.
Passados mais de dois mil anos, quem pode falar sobre os pretensos vitoriosos da época? Quem sabe o fim do sumo sacerdote Caifás? Quem se lembra em que ano morreu o pro cônsul Pôncio Pilatos? E quem poderia dizer onde está sepultado o imperador Tibério? Mas não há um único recanto sequer na imensidão de nosso planeta, que não exista uma marca, um símbolo ou simples objeto que nos lembre aquele fracassado de Belém. De certa maneira, o sucesso póstumo de Jesus e a permanência das suas palavras nos ajudam a entender a sua mensagem que denuncia o poder como efêmero e que a glória do mundo não passa de pó e cinzas.
Jesus tocou nesse ponto sensível da humanidade, a bondade e compaixão que existem dentro de cada um de nós. Por certo o Natal quer nos dizer justamente isso. Que o improvável vence a certeza. Que a incerteza triunfa sobre a convicção. De que o manso humilha o forte. O humilhado se sobrepõe ao exaltado. Se Jesus voltasse hoje, provavelmente se espantaria com as imensas catedrais erguidas em seu nome, mas não com os desafios do nosso tempo. Clonagens, engenharia genética e bebês projetados não são páreo para a sua doutrina de compaixão, amor e serviço que prevaleceu e floresceu ao longo desses dois mil anos. As suas palavras criaram um conjunto de fé e moral que permitiu a humanidade derrotar a engenharia social de Hitler, os dez mandamentos de Lênin e o terror do Armagedom Atômico. Estas mesmas palavras serão suficientes para colocar no seu devido lugar a misteriosa e temida engenharia genética
Nos dois primeiros milênios o cristianismo enfrentou muitos flagelos, repetidos períodos de fome e peste e, muito embora, ainda não tenha derrotado a morte, nos ofereceu um antídoto seguro contra o medo que ela poderia despertar em nós. Este é o legado que o derrotado de Belém há dois mil anos deixou para nós: a fé e a esperança que o terceiro milênio, traga ele as novidades que trouxer, será atravessado sem qualquer temor, na segurança da sua Palavra.

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