Klelitorion, a máquina da democracia |
Antes de entrarmos propriamente no texto precisamos fazer
algumas considerações a respeito do contexto em que viveu o profeta Isaías. A
diversidade do Espírito de Deus não encontra barreiras. Se um dia se valeu de
um boia-fria, como Amós, de alguém da pura linhagem sacerdotal, como Jeremias,
de um amante inveterado, como Oséias, também repousou sobre um príncipe de
Israel, como é o caso de Isaías. Sua vivência nos palácios o tornou ciente da
podridão do governo, por conta disso, o seu messias jamais poderia surgir de um
ambiente com tamanha contaminação. Por isso o idealiza na figura de um servo
desprovido de qualquer autoridade, prestígio ou beleza. Para ele, o reinado do todo
prometido de Deus também não poderia ter seu início com Davi, pois esse havia
falhado, e muito, como rei, daí o seu retorno à raiz de Jessé, como sugerido no
versículo primeiro desse nosso texto base. Ele volta com Samuel à casa de Jessé
que é de onde a profecia o anuncia.
Para falar deste que vem da parte de Deus para julgar e governar
o mundo, Isaías acentua características marcantes. Ele diz que o enviado tem
sabedoria, conhecimento e entendimento. Curiosa esta observação em três níveis,
porque ela encerra a base primordial das relações humanas. O Messias não apenas
sabe, ou seja, tem uma vaga ideia. Ele também conhece, isto é, tem intimidade
com a causa. E não somente isso, ele também entende. Por ser provido de todos
esses atributos seu julgamento não se dá pelo que as circunstâncias apresentam
e muito menos pelo censo comum. Todos sabemos da importância desses fatores em
julgamento. Em Israel no tempo do profeta, muito mais era levado em conta o que
a tradição oral transmitida através das gerações e o que a lei de Moisés
determinava no proferimento de uma sentença do que essa inusitada e insana maneira
de julgar que Isaías profetizava. Como não levar em consideração o direito
adquirido? Como não priorizar a justiça encerrada na lei? Esse Messias de
Isaías seria algum sem noção, por acaso? Como emplacará em juízo a partir do mais
fraco. Eu penso que esse dado em particular venha ser o maior entrave que o
Cristianismo impõe a Teoria da Evolução. Não é o homem descender do macaco, mas
a relevância quer tem, na fé cristã o menos dotado, o menos prestigiado, o menos
capacitado, que inviabiliza de uma vez para sempre a predatória teoria
Darwiniana em que se estabelece sobre argumentos justamente opostos. No governo
do Messias a inclusão dos excluídos não é apenas um programa, é um establishment, ou seja: a ordem
ideológica, econômica, política e legal que constitui a sociedade ou o Estado.
Tomar decisões a partir do necessitado é algo que os
governos ditos mais democráticos do mundo têm conhecimento, posto que a própria
essência da democracia inviabiliza por completo. Por falar em democracia, o que
me motivou a escrever depois de um longo período de silêncio, foi a noção
equivocada com que esse termo é empregado. É do conhecimento de todos que a democracia
surgiu na Grécia, porém durou pelo menos quatro séculos. Muito diferente da
nossa, que não se sustenta por cinquenta anos. Saímos da ditadura de Getúlio Vargas
para a democracia de Juscelino em um piscar de olhos. Mais rapidamente ainda
caímos em uma nova ditadura, dessa vez imposta pelo militarismo. Mal acendemos
à democracia das Diretas Já, já, de novo, tem, gente almejando a volta do
totalitarismo do coturno. (continua)
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