Moisés e Jetro, Jan Victors |
Jesus censurou veementemente os fariseus de seu tempo que se
esmeravam em cumprir certos preceitos da lei, mas se esqueciam de cumprir a essência
da lei: a justiça e a obediência a Deus. Como fechamento da narrativa daquela
situação descreve com exatidão cirúrgica o despropósito do cumprimento da lei
sem levar em conta a justiça: Guias
cegos! Coam um mosquito, mas engolem um camelo! (Mt 23.24) A lei não nunca poderá ser um fim em si mesma, mas apenas um meio para se atingir o único
fim válido, que é a reconciliação de todos os seres humanos, uns com os outros
e com Deus. Esse é o fim e o meio desse fim é a justiça.
Outra tendência que nos desmobiliza como cristãos na hora de
enfrentarmos as injustiças desse mundo é a índole de evitar conflitos que está enraizada
indevidamente em nossas consciências. O conflito é uma coisa ruim, não é? Principalmente
os conflitos que temos na igreja. Fomos ensinados que essa conduta não é
própria, por isso ninguém, nem mesmo nós os cristãos, queremos a discordância.
O problema é que nós nos esquecemos de que a submissão diante da injustiça, de
qualquer injustiça contra qualquer pessoa, custa muito caro no fim do que o
conflito. Quando os bons cristãos veem templos de outros credos serem queimados
e símbolos religiosos que não apreciam sendo vilipendiados e permanecem calados,
estão prestando um enorme desserviço à liberdade que o evangelho de Jesus
Cristo veio instaurar. O pastor luterano Martin Noemöler, quando estava preso
nos campos de concentração na segunda guerra mundial, detalhou em forma de poema
a fatalidade oriunda desta omissão:
Quando os nazis vieram
buscar os comunistas,
eu fiquei em silêncio; eu não era comunista.
eu fiquei em silêncio; eu não era comunista.
Quando eles prenderam
os sociais-democratas,
eu fiquei em silêncio; eu não era um social-democrata.
eu fiquei em silêncio; eu não era um social-democrata.
Quando eles vieram
buscar os sindicalistas,
eu não disse nada; eu não era um sindicalista.
eu não disse nada; eu não era um sindicalista.
Quando eles buscaram
os judeus,
eu fiquei em silêncio; eu não era um judeu.
eu fiquei em silêncio; eu não era um judeu.
Quando eles me vieram
buscar,
já não havia ninguém que pudesse protestar."
já não havia ninguém que pudesse protestar."
Se a igreja se reserva a tratar apenas dos assuntos que são
seguros, que não incomodam e que repercutem bem, nossa união com Jesus Cristo
está tragicamente abalada. A união com aquele a quem devemos obediência não
depende da nossa concordância, aceitação e muito menos da nossa conformidade.
Pelo contrário, é exatamente o contrário. Mas mesmo sabendo disso nos sentimos
de mãos amarradas. O que eu posso fazer se sou uma pessoa que não tem voz
ativa? Nós não sabemos como agir. O que podemos fazer em favor da justiça em um
mundo tão injusto?
O que precisamos fazer de imediato é mudar a nossa
mentalidade. Entender que somente podemos amar os outros se formos justos com
eles. No livro de profeta Isaías encontramos um bom começo: Aprendam a fazer o que é bom. Tratem os
outros com justiça; socorram os que são explorados, defendam os direitos dos
órfãos e protejam as viúvas. (Is 1.17)
Vamos começar na igreja local. Nós temos sempre esperado que
o pastor seja essa pessoa justa e que ele esteja fazendo a justiça em nosso
lugar, por nós. Eu já colaboro financeiramente para isso. Sabemos que o ministério
do pastor é equipar a igreja para desempenhar o seu ministério no mundo. É o povo
de Deus que tem que inundar o mundo com a mensagem do evangelho. Somos
equipados para exercer esse ministério onde quer que estejamos. Cada cristão é
um ministro. O que é o ministério de um só pastor comparado à mobilização de
uma congregação inteira?
Moisés foi um líder singular livrando o seu povo da
escravidão no Egito. Mas isso só aconteceu porque Moisés teve a humildade suficiente
para ouvir e aceitar os conselhos de seu sogro. Imagino que muito pouca gente
está disposta a fazer isso. Menos ainda de ouvir a sogra. Seu sogro o
repreendeu quando viu que ele estava tentando fazer tudo sozinho. Quando Jetro viu tudo o que Moisés estava
fazendo, perguntou: Por que você está agindo assim? Por que está resolvendo
sozinho os problemas do povo, com todas essas pessoas em pé ao seu redor, desde
a manhã até a noite? (Ex 18.14) Até
Jesus, que tinha autoridade divina, escolheu setenta pessoas para disseminar a
sua doutrina.
Tiago, o apóstolo, disse bem claramente que as palavras
vazias não servem para nada. Por exemplo,
pode haver irmãos ou irmãs que precisam de roupa e que não têm nada para
comer. Se vocês não lhes dão o que eles precisam para viver, não adianta
nada dizer: “Que Deus os abençoe! Vistam agasalhos e comam bem.” Portanto,
a fé é assim: se não vier acompanhada de ações, é coisa morta. (Tiago
2.15-17) (anterior)
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