Os fariseus perguntaram: — Nesse caso, por que é que Moisés permitiu ao homem mandar a sua esposa embora se der a ela um documento de divórcio? Jesus respondeu: — Moisés deu essa permissão por causa da dureza do coração de vocês; mas no princípio da criação não era assim. Leia Mateus 193-12
Hillel e Shammai,Shoshana Brombacher 1959- |
Como eu também não quero me envolver nesta questão do cristianismo que persiste entre as suas duas maiores denominações, o catolicismo romano e o protestantismo, e que se arrasta desde o século XVI, quando Henrique VIII, rei da Inglaterra, quis casar novamente, o que o fez pelo menos cinco vezes, vou falar sobre Hillel e Shammai. Estes dois rabinos do primeiro século que promoveram o mais acirrado debate teológico do Judaísmo de então. As mais banais questões eram motivo de intensos debates e controvérsias. Se Hillel dizia que as oito velas do Hanukkah deveriam ser acesas uma por dia, a partir do primeiro dia, Shammai propunha que elas deveriam estar todas acesas, e que fossem apagadas uma por dia. Até mesmo a quem se deve administrar o ensinamento da Torah era assunto controvertido entre estes dois líderes do povo judeu.
A despeito do povo já possuir (em advoguês) jurisprudência firmada por Moisés, que somente permitia o divórcio em casos extremos de concubinato ou casamento consanguíneo em grau proibido, os “papagaios de pirata” (ler a minha versão sobre este tema em http://amosboiadeiro.blogspot.com/2012/03/papagaio-de-pirata.html) queriam saber qual era o partido de Jesus na loteria legalista promovida por esses dois rabinos. O partido conservador de Shammai, que advogava segundo Moisés, pregava que o divórcio só deveria ser permitido estritamente nestes dois casos. Já Hillel dizia que qualquer mínima transgressão da mulher era passível de divórcio. Não tirar a louça do jantar seria um destes bons motivos. Assim como acontece hoje em dia, Shammai estaria mais para romano e Hillel mais para protestante.
Mesmo sem entrar fundo na questão partidária, Jesus expõe a sua posição, e a faz de modo inquestionável. Para ele, seja qual for o preceito da lei, ela somente existe pela dureza do coração humano. Jesus se vale de uma lei positiva, que mal interpretada trata o assunto mais como imposição do que realmente como uma concessão, para fazer valer uma ordem primordial de Deus estabelecida em Gn 1,27; 2,24 e 5,2. Contudo, Jesus não interpreta as palavras do Gênesis como sendo um dos tantos mandamentos positivos, mas como constituição do homem e da mulher como casal. Um preceito reconhecidamente humano, e que já existia desde o início dos tempos. Um preceito que não contemplava o domínio de um sobre a vida do outro: homem e mulher os criou.
A natureza humana se mostra inflexível sempre que se dispõe a resistir à vontade de Deus. Muito embora os discípulos se assustassem diante da exigência de um vínculo indissolúvel, o matrimônio assume na nova comunidade, que é a sua igreja, o padrão por excelência no tipo de relacionamento que deve imperar entre os cristãos a sua igreja. Jesus dá um passo a mais no conceito de união, propondo que a lei ceda lugar à graça, como mais tarde Paulo vai concluir em Rm 5,20: A lei veio para aumentar o mal. Mas onde aumentou o pecado, a graça de Deus aumentou muito mais ainda.
Entre Hillel e Shammai escolhamos sempre ficar ao lado de Deus, somente assim poderemos ter a certeza de que estaremos certos. Se alguém quiser se orgulhar, que se orgulhe de me conhecer e de me entender; porque eu, o Senhor, sou Deus de amor e faço o que é justo e direito no mundo. Estas são as coisas que me agradam. Eu, o Senhor, estou falando (Jr 9,24)
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