Justiça e misericórdia, escultura na Cumberland School |
Essas palavras do visionário João têm incomodados os cristãos através das gerações. Ninguém entre nós quer ficar no meio, ninguém quer ser morno. Não é para ser morno, está certo. A igreja nos cobra 100 % de dedicação, mas infelizmente, no nosso cotidiano, nós temos que lidar mais com as coisas do dia a dia. Isso é a história da humanidade. Nós temos que lutar primeiro pelo que é variável e não pelo que é absoluto. Contudo, penso que todo cristão possui a certeza de que o amor de Deus é absoluto. Assim como o seu amor, o seu julgamento também é absoluto. O julgamento existe, é claro. Julgamento é uma palavra que sugere um fato, mas não é uma palavra final, não a última palavra.
Karl Barth, um dos gigantes da teologia do século XX, afirmava que nós temos que pregar sobre a ira de Deus, assim como pregamos sobre o amor de Deus, porém, deixando bem claro que eles não são do mesmo nível. Nós temos que pregar mostrando que o triunfo do amor sobre a ira é mais do que evidente. A graça de Deus é sempre maior que o nosso pecado. O amor de Deus é o absoluto que tem a palavra final.
O problema existe quando credenciamos as pessoas a esse amor. Como pode o Congresso Nacional praticar esse amor absoluto? Como pode o STF estar imbuído da certeza desse amor? Como pode ser que a liderança do governo se sinta debaixo dessa graça? O cristão quando avalia o amor no relacionamento entre as pessoas deve usar sempre o critério de que o amor exigido por Deus se fundamentar na justiça. Outro grande teólogo do século passado disse o seguinte: No mundo de sistemas como o nosso o discípulo verdadeiro pode repartir o seu amor com os outros somente sendo justo com eles. O amor de Deus nos compele ao que é justo. No mundo de sistemas o cristão tem que cambiar o seu amor pela moeda chamada justiça, desde que esta é a única moeda corrente nesse mundo.
A maioria das pessoas não encontra um absoluto na vida, desde que sai pela manhã até que retorna à noite. Mas o que seria esse absoluto na vida? O que seria um absoluto na sua vida cotidiana? Por exemplo: Que absoluto você usaria para determinar o preço da passagem de ônibus na sua cidade? Você teria um absoluto de amor e justiça para determinar esse preço? Um preço alto serviria para aumentar o lucro dos empresários, até que se tornaria impossível andar de ônibus. Por outro lado, um preço baixo favoreceria os passageiros e causaria a falência da empresa. Olhando por alto, ambas as respostas estariam relativamente certas. Mas precisamos de uma resposta, porque algum peço a passagem deve ter.
A política tem sido descrita como a arte do possível. A política vive com o compromisso do ajuste. O ganho de um grupo é a perda de outro grupo. A política boia nas correntes que tumultuam e espumejam os mares do certo e do errado. Então, o alvo da justiça é balancear esses níveis e é por isso que como cristãos nós temos evitado a atividade política. Nós imaginamos que esse terreno não nos pertence, pois estamos no terreno do absoluto. Nós não nos sentimos em quando temos que assumir algum compromisso que nos leve a algo relativo. Nós estamos amarrados pelos nossos absolutos. Nós cremos que o amor é a resposta certa e imediata para todo o problema e toda a solução. Como membros do corpo de Cristo, a maioria de nós tem fugido da atividade política.
De fato nós achamos que a política é alguma coisa desagradável e até lamentável, mas ficamos satisfeitos quando vemos os oficiais públicos sendo punidos. É tão fácil censurar. Se todo mundo faz isso, porque nós não? Mas como cristãos temos que mudar esse quadro. Eu preciso muito disso. Temos que aprender a agir num mundo que é menos que perfeito. E se nós nos achamos bons demais para isso, simplesmente somos bons demais, e é esse o nosso problema. Nós achamos que a nossa vocação cristã está acima das coisas comuns como os impostos, do desemprego, da corrupção, das guerras, da falta de moradia e da sucatização de saúde. Nós imaginamos que uma pessoa, desde que experimentou a graça de Deus, não tem mais responsabilidade com o mundo. Que pensamento equivocado é esse!
Em Gênesis lemos que Deus colocou o homem no jardim e o mandou cultivar e guardar. O Espírito Santo que nos ilumina no caminho da perfeição cristã é o mesmo Espírito Santo que na manhã da criação deu responsabilidade ao homem. O conhecimento que vem desse Espírito nunca nos guiará ao ódio a esse mundo, pelo contrário. Entre todos os seres humanos ninguém deve ter mais interesse pelo bem desse mundo do que o cristão. Como cristão nós temos que declarar por meio de palavras e atitudes a boa nova do evangelho que afirma que Deus ama incondicionalmente esse mundo. Essa missão não é uma desculpa para fugirmos da responsabilidade para com o mundo, mas uma chamada para entrarmos de corpo e alma na sua história. (continua)
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