Rupturas com o Judaísmo - Parte V

 


Pessach e Páscoa

Não poderás sacrificar a Páscoa em nenhuma das tuas cidades que te dá o Senhor, teu
Deus, senão no lugar que o Senhor, teu Deus, escolher para fazer habitar o seu nome, ali sacrificarás a Páscoa à tarde, ao pôr do sol, ao tempo em que saíste do Egito.
Deuteronômio 16.5-6

 

Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. I Coríntios 11.23-26

 

A instituição da Páscoa Judaica, ou Pessach é criteriosamente descrita em Êxodo 12, porém existem fortes indícios de que havia celebrações semelhantes anteriores a Moisés. O enigmático texto de Gênesis 15, que narra um fogareiro fumegante e uma tocha de fogo passando entre os corpos dos animais destrinchados por Abraão, tem relações profundas com a décima praga, quando o anjo de Deus passa por entre as casas dos egípcios. No entanto, nem os antigos quanto os atuais ritos judaicos arranham, ainda que superficialmente, o sentido da Páscoa celebrada no Cenáculo por Jesus e seus discípulos, por conta de divergências que se mostram bastante antagônicas.

 

A Páscoa judaica faz menção à cruenta libertação do povo judeu da escravidão do Egito. Um povo que se alegra enquanto outro pranteia. Ou seja, aqui os fins justificam os meios. Já a Páscoa cristã é o decreto que põem termo a toda e qualquer forma de escravidão. Uma celebração em que universalmente todos os povos, quer escravizados, quer escravizadores, encontram motivos para se alegrar.

 

A Páscoa Judaica marca o início de peregrinação depuradora para uma terra prometida que visava impedir que nela entrasse todo aquele que não havia se mostrado rigorosamente fiel aos mandamentos de Moisés. A Páscoa cristã assinala a instauração definitiva do Reino de Deus. Um misto de lugar com um excelente estado de coisas que é oferecido gratuitamente a todo mundo, tal como Jesus anteriormente afirmara: Na casa do meu Pai há muitas moradas. João 14.2.

 

Na peregrinação do deserto, foi servido de um pão que tinha prazo de validade de um dia e de água que, brotando da pedra, matava a sede naquele momento. Todos os que se serviram destes elementos morreram. Jesus é o pão vivo que desceu dos céus, todos que nele creem terão vida eterna. Fontes de águas vivas jorrarão de dentro de todos aqueles que crerem em Jesus.

 

O clímax da Páscoa judaica é marcado pela morte do primogênito do faraó, o segundo deus do Egito. A celebração cristã tem por finalidade a lembrança da paixão e morte do unigênito Filho de Deus.

 

É bem certo que difícil é para o senso comum entender o que Jesus quis dizer com “Está consumado”. Até mesmo no seio da igreja ainda encontramos resistência ao cancelamento de todas as dívidas, o perdão de todos os pecados e o fim de qualquer punição instituída por mandamentos determinantes. Na sua Páscoa, Jesus assegura a todos os seus discípulos que eles não celebrariam novamente a Páscoa, senão juntamente com ele, num futuro muito próximo, bebendo um vinho extraordinariamente novo. Paulo, resgatando palavras de Jesus que não estão nos evangelhos, nos lembram que tanto o pão que desceu dos céus quanto o vinho novo da Páscoa são prenúncios irrevogáveis de que o reino desse mundo já passou a ser do nosso Senhor e de seu Cristo, e que ele reinará para sempre. (Continua) (Anterior)


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