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Eu não consigo ler esse salmo como numa narrativa de um
passado em que o extraordinário estabeleceu-se como algo
que desvincula a realidade do salmista da nossa realidade brasileira e por que não dizer mundial? Não consigo também enxergar o
salmista como um ser super abençoado ou como alguém que recebe de Deus dádivas exclusivas,
as quais são negadas aos seus contemporâneos. Da mesma forma, não consigo fazer
essa leitura, senão como um fato que somente no limiar crítico vem a acontecer. Diante
do exposto, alguém poderia muito bem me perguntar, tal como perguntaram ao salmista:
Diante da vida que estamos vivendo, o teu
Deus, onde está?
De fato, todos os elementos negativos destacados na oração
do salmista se fazem presentes hoje em igual ou maior intensidade. Talvez a
palavra não existisse na sua época, contudo, estamos sujeitos a verdadeiros
tsunamis que têm nos arrastando de um lado para o outro, sem que nos seja
possível tomar pé em qualquer aspecto da vida por nós vivida. Seja no aspecto
financeiro, moral, de conduta, nem agora e nem em futuro vislumbrável. Os
inimigos da nossa paz, da nossa segurança e da nossa existência têm se
multiplicado e se superado nas maneiras com que esmagam os nossos ossos e
com eles a nossa esperança. Ainda muita gente perguntando o que fazer diante disso?. Baseado na sua própria experiência o salmista vem do passado
distante nos desafiar com uma simples e sutil proposta: Espera em Deus!
Eu sei que as dúvidas agora se fundiriam em uma única afirmação: Esta proposta está longe de ser uma coisa simples, já
ultrapassou em muito o limite do simplismo. Como podemos esperar em Deus se neste turbilhão não
conseguimos sequer colocar a cabeça para fora para respirar? Como podemos
esperar em Deus quando o futuro que se nos apresenta é ainda mais tenebroso? Como
podemos esperar em Deus se, mesmo investindo com todas as nossas forças contra
a situação vigente, não conseguimos qualquer resultado minimamente expressivo?
No contexto em que a liderança e política e judiciária tem se esmerado em se
fazer corporativa, incapaz e escandalosamente corrupta, de onde esperar que
Deus retire recursos para executar a sua ação redentora?
O interessante do salmo é que o salmista não se vê envolto
por uma utopia, não faz referência a algo que um dia ouvira falar não sabe de quem
ou cita um fato semelhante que aconteceu não sabe onde. Ele também não procura
apresentar para Deus uma solução viável, bem elaborada pela sua experiência em
sobreviver aos infortúnios passados. Ele não sai batendo panelas pelas ruas ou
se junta a grupos de manifestantes inflamados e indignados. Ele apenas declara
antecipadamente o resultado final de tudo, por mais inadimissível que possa
parecer: Pois eu ainda o louvarei.
O que é isso senão a antevisão de uma vitória inconteste? O
que é isso senão a certeza de um resultado inimaginavelmente espetacular? O que
é isso senão a declaração definitiva da confiança em um Deus que tem, ainda que
as circunstâncias se esmerem em negar, o controle total do
mundo em suas mãos? O que de fato não tem qualquer cabimento é um cristão ler esse salmo e não ter outra certeza, senão essa: Espera em Deus, pois ainda o
louvarei.
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