Fiquem quietos

Cristo no Mar da Galileia de Eugène Delacroix

O Senhor, o Santo Deus de Israel, diz ao seu povo: Se voltarem para mim e ficarem calmos, vocês serão salvos; fiquem tranquilos e confiem em mim, e eu lhes darei a vitória. Mas vocês não quiseram fazer o que eu disse. Isaías 30.15

Nas grandes tormentas que a Bíblia relata, tanto as da natureza, como a do Mar da Galileia, quanto as introspectivas, como as de Jeremias; tanto as individuais, como a de Job, quanto as coletivas, como a do Mar Vermelho, o povo de Deus ouviu apenas uma ordem: Fiquem quietos.

Apesar de parecer uma atitude covarde ou, no mínimo, desleixada, esse aquietar-se na presença de Deus não é um sinal de desesperança total, mas uma declaração absoluta de fé na providência divina, cuja disposição contrária não é revoltar-se e sim a iniciativa ativista de buscar esta mesma providência em lugares, instituições ou pessoas que comprovadamente nada podem fazer pelo bem comum.

O profeta Isaías, no primeiro versículo deste segmento, começa a sua mensagem com a seguinte denúncia: Ai dos meus filhos que se revoltam contra mim, que fazem planos sem me consultarem e assinam acordos sem a minha aprovação! Assim amontoam pecado em cima de pecado. Pois, sem me pedirem licença, as autoridades de Judá foram ao Egito pedir socorro ao seu rei, pois confiavam no seu poder para proteger Judá.

Penso que nenhum cristão minimamente consciente precisaria de muita exegese para adaptar este texto para o contexto brasileiro atual. Não precisaríamos sequer trocar o sujeito da frase, pois o texto, irrompendo a barreira imposta pela distância cronológica, continua falando para os filhos de Deus de hoje, porque eles continuam a buscar socorro no Egito, quer esse Egito esteja representado por uma figura humana, como a de Faraó, quer seja uma nação que se insinua pelo seu poder político-financeiro. Se a introdução já é por si traumática demais para nós, o complemento declara em definitivo a nossa iniquidade: Mas vocês não quiseram fazer o que eu disse.

Os cristãos de hoje estão divididos em dois grandes grupos igualmente iludidos. Se uns imaginam que o final dos tempos está à nossa porta e que ele porá um fim a toda a iniquidade que ronda a nossa civilização. O outro grupo permanece na firme convicção de que o partido político que lhe é simpático acalmaria de vez o nosso temporal sócio-moral-econômico. Estão errados mais do que iludidos, porque não atentaram ainda para a condição única da salvação, que é o grande mandamento: Fiquem quietos.

Amontoamos pecado sobre pecado em comprometimentos que não têm volta e para os quais não temos mais como invocar o perdão de Deus, pois a nossa desobediência já se tornou patente e conhecida por toda a população. Somos uma geração de cristãos nanicos, que fazemos acordos espúrios e sem qualquer aval de Deus, muito embora o seu nome seja sempre citado por nós.

Se Deus quiser vai dar certo? Certo como, se a sua Palavra já nos assegurou que a derrocada é iminente? Certo como, se a nossa confiança não está no Santo de Israel, e sim no Egito? Certo como, se não entendemos que a única e derradeira coisa a se fazer em meio a um temporal é ouvir a voz que nos diz: Fiquem quietos.


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