Fantasma vingativo do rei morto |
Mas há outro paradigma a ser derrubado na questão do “ser ou
não ser”. Jesus também por mais de uma vez louvou a Deus por este ter se
revelado aos ignorantes do sistema enquanto embotava a inteligência dos sábios
deste mundo. Embora esta seja uma proposta antiga na história da salvação, ela
só começou a ser percebida, denunciada e questionada por Isaías, ainda antes da
queda de Samaria, mais precisamente no ano da morte do rei Uzias: Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas
não percebais. Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e
fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os
ouvidos e a entender com o coração, e se converta, e seja salvo. Então, disse
eu: até quando, Senhor?
É claro que não está se tratando aqui do avanço da ciência
ou das conquistas tecnológicas que facilitam e valorizam a vida. Não se trata
também do esforço que a razão humana empreende para entender e explicar a sua
realidade. Trata-se sim das artimanhas que o mundo que age contra o plano de
Deus engendra para justificar e até para intensificar a disparidade entre
riqueza e pobreza, força e fraqueza, conhecimento e alienação. Não poucos foram
os déspotas da História que se pautaram pelo “ser ou não ser” do conhecimento,
sob a premissa maquiavélica do “conhecimento é poder”. É neste sentido que Deus
ordena para que Isaías em sua profecia denuncie que o que realmente importa,
está sendo cada vez mais ocultado dos olhos do poder e revelado aos despojados
e destituídos desse poder.
O ser cristão é ser nova criação para definitivamente
inverter e subverter os valores da criação antiga, onde a força é usada senão
para erguer o fraco e a sabedoria, apenas para dar sentido à vida. Talvez o
momento decisivo de Shakespeare em Hamlet, seja onde ele intui que todo esforço
para ser se perde num vazio ativista e inconsequente, e desta forma conclui seu
raciocínio:
O pensamento assim nos
acovarda, e assim
É que se cobre a tez
normal da decisão
Com o tom pálido e
enfermo da melancolia;
E desde que nos
prendam tais cogitações,
Empresas de alto
escopo e que bem alto planam
Desviam-se de rumo e
cessam até mesmo
De se chamar ação.
Leituras Mateus 11.25-27 e I Coríntios 1.26-29
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