O que é JUDAÍSMO?

Jesus entre os doutores da lei por Meir Alguades
Por Judaísmo entendemos as formas características em que se apresenta a religião de Israel durante os últimos séculos a.C. O termo ioudaismós encontra-se em II Macabeus (2.21; 8.1; 14.38) e em Gl 1.13-14, sempre com o sentido de "religião judaica” ou “modo de viver judaico”. O verbo ioudaidzein tem mais ou menos igual sentido (Et 8.17). Na diáspora os judeus, vivendo separados, formavam grupos bem distintos que não se misturavam com o resto da população (Et 13.4s; cf. a amixia de II Macabeus 14.38): por causa das suas leis sobre os alimentos não podiam comer junto com os pagãos (proibição de carne de porco); matrimônios mistos não eram aceitos; os judeus abstinham-se do serviço militar (por causa das prescrições sobre o sábado) e dos jogos públicos (a nudez lhes era uma abominação; os jogos eram frequentemente acompanhados de sacrifícios pagãos), absorvendo-se a sua vida na prática da treskeia (Tg 1.27). Os autores gregos e romanos falam em “os costumes judaicos” (Dio Cassius 67,14) e uma verdadeira “submissão” (enokos) ao “modo de viver” judaico (Plut. Cic. 7).
Concepções religiosas do Judaísmo.
No terreno da religião podem-se apontar no Judaísmo algumas doutrinas características, que de um lado não se identificam com a revelação do Primeiro Testamento, do outro lado preparam de alguma maneira as ideias cristãs.
Em dois pontos muito importantes o Judaísmo apresenta uma acentuação específica dos ensinamentos do Primeiro Testamento:
(1) Na doutrina sobre Deus nota-se muita insistência na transcendência divina. Deus, que é “um, o único: bendito seja" (Pirke Aboth 4,7), é apresentado cada vez mais longe do contato vivo com os homens e com o mundo (de uma maneira que lembra o deísmo do século XIX). O nome de Javé não pode mais ser pronunciado; é substituído por indicações indiretas como “o céu”, "o lugar”, “o espaço” (ó topos), “a glória” (cf. talvez II Pe 1.17); os termos mais diretos são “o Altíssimo” (upsistos) , e “Aquele que mora no mais alto” (en upsistos kaitoken). Característico é também que é evitado todo antropomorfismo. Não apenas exclui-se em Deus toda ação material (p. ex. comer; Gn 18.8 Targum) mas até negam-se-lhe conhecimento (Gn 3.5; Ex 3.19) e intenções (Gn 50.20). Deus não tem paixões (não é, propriamente, um “guerreiro", como diz Ex 15.3); não conhece furor (Ex 15.8; Sl 11.5) nem arrependimento (Ex 32.12). A luta de Jacó com Deus (Gn 32.25-33), a intimidade com que Moisés fala a Deus “face a face” (Ex 33.11) são apresentadas como fatos que têm sentido não literal mas alegórico. O contato da esfera divina com este mundo é mantido por toda espécie de seres intermediários, “fôrças" logoi (Pilo), como sejam os memrã (a “palavra”; cf. Is 55.10-11) a sekínãh (Henoc 14.20), a doxa (Tobias 3.16; Eclesiástico 17.13), o “espírito santo" (Is 48.16; I(s 63.10).
Também a doutrina sobre os anjos (cf. os textos de Qumran) e o Messias é transmitida e até mais desenvolvida no Judaísmo (cf. Daniel sobre o Pilho do Homem). O desejo de tempos melhores, messiânicos, faz nascer no Judaísmo os apocalipses, gênero literário que pretende revelar os segredos de Deus; das mesmas tendências nasceu também a cabala (“tradição” esotérica a respeito das emanações divinas), que tem as suas raízes igualmente no Judaísmo (especialmente nas concepções sobre Deus). (continua)

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