Foto Carlos Cardoso |
Estou sempre humilhado
e coberto de vergonha, ouvindo as zombarias dos meus inimigos e os insultos dos
que querem se vingar de mim. Salmo 44.15-16
Eu queria chamar a atenção de vocês para a situação descrita
no Salmo 44, que se anuncia ser bastante parecida com a mostrada pelo
telejornal. O povo, após ter sofrido não apenas uma, mas duas tragédias
avassaladoras, necessita de Deus uma resposta. É deste cenário de
tragédia e questionamento relatado no salmo que pretendemos extrair algumas
conclusões e fazer outros tantos questionamentos.
Para início de conversa, o salmista não está fazendo uma
oração e sim uma denúncia. Muito antes ciências comportamentais de hoje, o
poeta da Bíblia já detectava que a verdadeira raiz do problema estava muito
além da percepção nata e da análise imediata. Ele vai fundo nas questões que
normalmente por nós são consideradas secundárias, para expor a realidade nas
suas mais complexas causas e efeitos. O que ele quis registrar com a tragédia
viva que se abateu sobre o seu povo, é o que sempre fazemos quando a frustração
insiste em se repetir: Aconteceu de novo e ninguém fez nada para que não acontecesse.
Levando-se em conta o que dizem a doutrina do Romário e tantas
novas doutrinas que surgiram por aí e que estão gravadas nos vidros dos carros,
será que Deus realmente aponta para uns e concede uma vida de alegrias e
realizações, enquanto que para a outros resta apenas a frustração eterna? Não
estaria Deus fazendo o papel de um enorme Papai Noel, concedendo gratuitamente
bênçãos aos seus escolhidos? Não são poucos os que alegam que, na sua
soberania, Deus pode fazer o que quiser, mas agindo assim, esta soberania não
seria a primeira e mais flagrante contradição à sua justiça e ao seu amor
indiscriminado e incondicional?
Então, o que dizer do outro lado da moeda? Das pessoas
que são constantemente assoladas por acontecimentos trágicos? Pessoas que têm a
vida marcada pela adversidade, sem que lhes aconteça absolutamente nada de bom
ou se lhes materialize qualquer esperança. Como será que elas entendem a
providência de Deus tão inspiradamente cantada nos nossos hinos? Será que as
mãos de Deus realmente dirigem o meu destino, será realmente que o acaso para
mim não haverá?
Num dos salmos mais conhecidos da Bíblia o salmista levanta
essa questão com muito oportunismo e propriedade, quando diz: Como entoaremos o cântico de Sião em terra
estranha? Como podemos continuar pregando que Deus é um pai amoroso,
que se preocupa, dá assistência e que se importa, e continuar contemplando
passivamente tsunamis, terremotos, desabamentos, enchentes, chacinas e tudo de
ruim que está acontecendo à nossa volta? Será que pode haver um meio termo
entre a providência de Deus e todo esse mal? Ou seja, qual é o verdadeiro
sentido da providência divina?(continua)
Leitura: Salmos 44.
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