Desembarque de Colombo por Bartolomeu de Las Casas |
Antes da lei do divórcio havia em uma igreja das mais
tradicionais um casal que era exemplo de conduta cristã e incansável
participante de todas as atividades. Tudo ia bem até descobrirem que eles
não eram legalmente casados. Foi aí que uma comissão de notáveis procurou o
pastor para que destituísse aquela senhora dos cargos que ocupava até que a
situação fosse resolvida. Encurralado, restou ao pastor perguntar-lhe o que
pensavam fazer para que a situação fosse resolvida. Estamos orando para que Deus dê um jeito para que eles possam se casar
legalmente, responderam eles. A solução única seria que ambos ficassem
viúvos dos seus casamentos anteriores.
Se os abomináveis fatos do contemporâneo denunciam a nossa
insolência perante a santidade de Deus convocado-o a sujar as mãos em nosso
lugar, por que os textos bíblicos que reivindicam exatamente o mesmo são vistos
como aceitáveis e justificáveis? Não seria por que visualizamos as atrocidades
do Apocalipse fora do contexto da mensagem cristã em uma era escatológica onde
o “não matarás” e o amor incondicional ao inimigo há muito deixaram de ser
mandamentos?
Algumas ponderações devem ser feitas antes de qualquer
conclusão precipitada. Primeiramente creditar ao texto bíblico total
honestidade e transparência, porque nele descobre-se mais rapidamente o estado
emocional do escritor ou do personagem em questão, do que propriamente a
inspiração divina por trás dos seus relatos. A Bíblia é suficientemente fiel e
transparente para expor as mazelas e sandices de todos os envolvidos, não sendo
complacente nem mesmo com os seus mais conceituados heróis. Em segundo lugar,
deve-se evitar confundir inspiração com aval. Uma coisa é entender que Deus
está sempre ao lado do oprimido e contra qualquer forma de opressão, e que
conclama a todos à liberdade; outra é inferir que ele endossa quaisquer meio de
conquista desta liberdade, inclusive aqueles que venham privar outros da sua
liberdade e até da própria vida. Mas principalmente não devemos nos esquecer de
que o cristianismo crê em um Deus imutável, zeloso e irredutível
quanto aos critérios de amor, de verdade e de justiça. Como assim bem disse o
salmista: Para sempre, ó Senhor, está
firmada a tua palavra no céu.
Leitura: Apocalipse 14.1-11
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