Messias ou não?

A negação de Pedro, Rembrandt
Na língua hebraica Messias é uma palavra comum que significa ungido, e que no Grego foi traduzida por Cristo. Indica, apenas, que a pessoa foi untada com óleo ou unguento com um fim específico, em um ritual religioso. Tratar-se de título conferido exclusivamente a seres humanos, pois o Primeiro Testamento nunca registrou que um ser celestial que o tenha recebido. Na história de Israel somente os sacerdotes eram ungidos. Com o surgimento da monarquia, a unção foi concedida, também, a Saul. Por instaurar pela primeira vez a dinastia sob a qual Israel se viu uma nação livre e soberana, Davi passou a personificar não mais a imagem de um simples rei, mas a fonte inspiradora do libertador prometido que iria trazer novamente a paz e a prosperidade; em resumo, o Messias. O orgulho de nação livre e soberana é perdido para sempre e um sem número de nações opressoras se sucedem subjugando o povo. Neste cenário de desespero nasce a esperança da chegada de um novo rei, que à semelhança de Davi, viria para restaurar a liberdade e a hegemonia de Israel. Aproveitando-se desta expectativa, vários “Messias” despontaram como libertadores de Israel. Judas Macabeus e Bar-Kokeba foram os que mais se aproximaram da idealização de um Messias, mas que ao final se mostraram autênticas fraudes. Alguns estrangeiros também foram chamados de Messias, como Ciro da Pérsia e Nabucodonozor. Mas no primeiro século de nossa era nasce uma pessoa sobre quem recaem grandes questionamentos: se por um lado preenchia as expectativas proféticas que iam desde o local do seu nascimento até a um sinal inconfundível na entrada triunfal que fez em Jerusalém, por outro, não preconizou de imediato o tempo de glória, paz e prosperidade prometido ao povo judeu, o que seria a marca indelével da chegada do Messias. Os judeus olhavam as profecias que anunciavam mudanças radicais na vida do povo e na própria natureza e diziam: este não pode ser o Messias. De fato, Jesus não seguiu o trâmite regular de alguém que postulava o cargo: não atraiu um número suficiente de seguidores; não despertou temor entre os romanos; nunca se envolveu diretamente em questões políticas; enfim, jamais executou qualquer movimento que pudesse atrair para si a evidência de um Messias. Para se entender Jesus como sendo este Messias prometido, uma mudança radical na abordagem a respeito do Plano de Deus se faz necessária. Somente após muita reflexão é que alguns passaram a acreditar que a vinda deste Messias não causaria apenas a simples inversão no cenário mundial, onde os opressores trocariam de lugar com os oprimidos, mas anunciaria a erradicação de qualquer tipo de opressão e de sectarismo. Além disso, imaginar o poder das armas cedendo lugar à força do amor, que é a marca deste novo tempo messiânico, é algo que não se assimila de imediato. Sobretudo, um aspecto é de capital importância: ter, como Jesus, a fé inabalável em que, enquanto este novo tempo não se faz presente, vale a pena sofrer e morrer apenas por esta esperança, sendo ou não reconhecido como Messias.

Leitura: João 7.40-53

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