A colheita é comum, mas o capinar é sozinho… (Riobaldo) |
Texto do reverendo Luiz Carlos Ramos.
Está escrito lá no Grande Sertão: Veredas, de Guimarães
Rosa: “A colheita é comum, mas o capinar é sozinho…” Muito do que colhemos hoje
com abundância é fruto do capinar solitário e árduo de uns poucos
sonhadores-poetas-profetas. Gente pequenina, tão pequenina, que acabou por se
tornar mais sábia que os sábios (vd. Pv 30.24).
Houve tempo no qual se duvidava que a escravidão, por
exemplo, um dia chegasse ao fim, que as mulheres tivessem seu ministério
clerical reconhecido, que o Brasil viveria a plena democracia… O que, no
passado, não passava de insensatez, hoje é realidade e direito adquirido.
Claro que há muito por fazer. Aprender a honrar e a
respeitar as conquistas também custa. Não falta quem, de má-fé, se aproveite da
nossa democracia, inclusive eclesiástica, para impor seu autoritarismo.
Por isso estamos aqui hoje, para comemorar e reafirmar
conquistas históricas e para honrar e recordar essa gente pequenina que, uma
vez tendo os pés lavados por Cristo, seguiram-lhe o exemplo e saíram lavando
outros pés, curando feridas, perdoando pecados.
Gente pequenina que, contra toda incredulidade, provou que
um mundo diferente é possível. Porque aprendeu que a as pessoas sempre mudam e
que “caminhar com Cristo é experiência sempre nova e envolvente”.
De tal sorte que podemos comungar com a teologia sertaneja
do Riobaldo, do Grande Sertão:
“[…] O senhor… Mire veja: o mais importante e bonito, do
mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram
terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam. Verdade
maior. É que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o
diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro – dá
gosto! A força dele, quando quer – moço! – me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém
não vê. Ele faz é na lei do mansinho – assim é o milagre. E Deus ataca bonito,
se divertindo, se economiza. […]”
Minhas irmãs e irmãos, Deus vem vindo, de mansinho, pra
fazer tudo novo. Deus chama a gente pra um momento novo!
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