Vitral no Temple Beth Tzedek |
De Zebulom, dos que
podiam sair no exército, cinquenta mil ordenados para a peleja com todas as
armas de guerra; como também destros para ordenarem uma batalha, e não eram de
coração dobre. I Crônicas 12.33 (Almeida Corrigida e Revisada Fiel)
Dobre é uma palavra que já não é mais tão usada, mas que
descreve com incrível exatidão o que está acontecendo na Câmara dos Deputados
no processo de impeachmente da presidente Dilma. Não sei se enxergo
demais, mas o que estou vendo é a expressão mais rotunda da canalhice que pode
ser expressada por uma pessoa que se diz humana.
Discursos inflamados de ambos os lados, juras de amor ao
país e de compromisso com os eleitores, ofensas morais (se é que ainda são
possíveis), tudo isso em um jogo de cena que pretende enganar a quem?
Desculpem-me a insolência, mas não tenho como crer que alguém possa ver o
mínimo de decoro ou qualquer resquício de sinceridade em qualquer lado desse
debate que, se fosse circense, não teria como ser tão bem ensaiado. É a batalha mais
ferrenha entre os abutres que não querem largar o osso, os ratos que
abandonaram o navio que está naufragando e aqueles que não foram convidados
para a festa da corrupção institucional, mas que se corromperam por outros
meios. Não faço a menor ideia de quem vai ganhar, mas sei bem que nós é que vamos perder, e esta é uma verdade incontestável.
Quando fiz, e pretendo continuar fazendo, críticas aos
líderes religiosos, principalmente os evangélicos que têm expressado
publicamente a sua adesão a um dos lados da disputa, enquanto ainda se insinuam como líderes religiosos e não simplesmente como cidadãos, o faço com a convicção de
que essa não é a praia do sacerdote cristão. Não fomos chamados por Deus para julgarmos
partidos políticos e sim para denunciar e julgar a atuação das pessoas que, em
nome do povo, exercem mandatos de poder, porque como bem declarou o escritor dos Provérbios: Não havendo profecia, o povo se corrompe.
Mais uma vez um texto das Escrituras desabrocha do passado e vem nos desfiar e por em cheque as nossas escolhas. A narrativa bíblica trata do
credenciamento de soldados do exército que obediente à voz do profeta iria
proclamar e garantir a ascensão de Davi ao trono de Israel. Notem quais foram
os critérios para a escolha dos homens que desempenharam um papel que pode se
dizer que era secundário neste empreendimento: ordenados para a peleja com
todas as armas de guerra, uma outra maneira de dizer que eram “pau pra toda
obra”; destros para ordenarem uma batalha, o mesmo que conscientes do seu
papel e importância na transição do processo político de então; e não eram de
coração dobre, isto é, não tinham duas caras.
Não pensem vocês que eu duvido da capacidade da grande
maioria dos nossos representantes ou que haja alguma desconfiança quanto ao
seu conhecimento dos problemas e das soluções. A questão primordial é o coração
dobre. É aí que, como diz a a sabedoria popular: ferrou
tudo. É a maldade do coração daquele que tem a clara disposição de que se candidatou para
se dar bem. Para fazer valer os interesses daqueles que bancaram a sua
candidatura. Para dançar conforme as potestades do mundo tenebroso do dinheiro
assim determinam.
Que este circo pelo menos sirva para nos fazer
perceber qual é o papel do cristão e importância do sacerdócio neste processo, que claramente não
é o de bater panela nas ruas, muito menos de nos engalfinharmos com pessoas que
pensam diferente de nós. Tenham a certeza de que um coração resoluto em
conhecer a vontade de Deus para esse mundo não vai permitir que fiquemos apenas
no “ora veja”, ou o que é ainda pior: batendo palmas pra maluco dançar.
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