Apóstolos libertos do cárcere, autor não identificado |
Se existe um fator que sempre me inculcou no evangelho foi a
escolha de Pedro para ser um dos mais próximos discípulos de Jesus. Eu sempre
me perguntei: por que logo Pedro? Seria porque não existia outro que tenha
negado Jesus mais vezes do que ele? Seria pelo fato de não haver outro que fosse
flagrado na contramão da história com mais frequência do que ele?
Pedro realmente é um caso pensar. Negou a messianidade de
Jesus imediatamente após ela lhe ter sido revelada com exclusividade, o que lhe
custou o título de Satanás, mais precisamente de tentador (Mt 16.17). Negou
Jesus três vezes no momento mais crucial do evangelho (Mc 14.72). Negou a sua
vocação ao ministério mesmo sabendo que Jesus havia vencido a morte na sua
tentativa de voltar a ser pescador: Vou
pescar (Jo 21.3). Como se pode ver, Pedro era um expert em negação.
Quando esses dados são inseridos no contexto da nossa
meditação, ou seja, quando notamos que o grande negador agora se encontrava
sozinho, tendo que enfrentar uma acusação mais grave e mais diretas, nada
poderíamos esperar, senão mais negação ainda. Mas desta vez não aconteceu. Logicamente
que foi por influência direta da experiência adquirida no Pentecostes. Mas não
foi só isso. Não foi somente pelo êxtase da descida do Espírito Santo sobre a
sua vida. Foi também pela plena convicção de que não há no mundo inteiro outra
forma, outro meio, outra pessoa, outro nome pelo qual a nossa salvação poderia ser
conseguida.
Esta foi uma posição que se estendeu pelo restante da vida
de Pedro. Um conhecimento que lhe serviu para analisar e julgar toda e qualquer
situação à sua volta. O contexto agora não era mais Israel. O confronto agora
não era mais contra o Sinédrio. Ele não estava mais na sua pátria. As pessoas a
quem se dirigia não eram mais seus concidadãos. Estava em um país estrangeiro e
se dirigindo a estrangeiros. É nosso texto de hoje.
Notem vocês que ainda assim o tom não muda. A premissa é a
mesma: Todo aquele que se levanta reivindicando para si o título de salvador,
todos aqueles que prometem liberdade, todos aqueles que engodam as pessoas com
palavras jactanciosas não podem nos libertar porque eles mesmos são escravos do
pecado e da corrupção. Restaria para nós apenas o cargo de escravos dos
escravos. Com essas palavras Pedro volta a afirmar o que disse ao sumo
sacerdote: Não há salvação em nenhum
outro nome debaixo do céu. Seja em
qualquer nível que a necessidade de salvação se apresentar.
Agora vamos deixar de pensar no que Pedro fez e pensar agora
no que estamos fazendo. A pergunta sobre a escolha de Pedro poderia muito bem
ser estendida aos dias de hoje: Por que a igreja?Em matéria de negação não
ficamos devendo nada a Pedro. Do mesmo modo, também passamos nós pela experiência
do Pentecostes. Estamos certos de que não há salvação em outro nome que não
seja o de nome de Jesus. O que está faltando então para colocarmos em cheque
toda mentira, todas as falsas promessas, todo arroubos dos caudilhos, todos os
carismáticos que tentam usurpar a honra e a glória que é devida ao único e
exclusivo nome pelo qual importa a nossa salvação? Não somente a salvação
futura, mas a salvação aqui e agora. A salvação pleiteada por todos os que se
manifestam o desejo de viver em um país salvo da miséria, da superstição, da corrupção e,
principalmente, da maldade daqueles que são fonte sem água, nevoas levadas pelo
temporal e para quem estão reservadas as mais densas trevas.
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