Nenhum outro nome III

Apóstolos libertos do cárcere, autor não identificado
Esses tais são como fonte sem água, como névoas impelidas por temporal. Para eles está reservada a negridão das trevas; porquanto, proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam no erro, prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor. II Pedro 2.17-19

Se existe um fator que sempre me inculcou no evangelho foi a escolha de Pedro para ser um dos mais próximos discípulos de Jesus. Eu sempre me perguntei: por que logo Pedro? Seria porque não existia outro que tenha negado Jesus mais vezes do que ele? Seria pelo fato de não haver outro que fosse flagrado na contramão da história com mais frequência do que ele?

Pedro realmente é um caso pensar. Negou a messianidade de Jesus imediatamente após ela lhe ter sido revelada com exclusividade, o que lhe custou o título de Satanás, mais precisamente de tentador (Mt 16.17). Negou Jesus três vezes no momento mais crucial do evangelho (Mc 14.72). Negou a sua vocação ao ministério mesmo sabendo que Jesus havia vencido a morte na sua tentativa de voltar a ser pescador: Vou pescar (Jo 21.3). Como se pode ver, Pedro era um expert em negação.

Quando esses dados são inseridos no contexto da nossa meditação, ou seja, quando notamos que o grande negador agora se encontrava sozinho, tendo que enfrentar uma acusação mais grave e mais diretas, nada poderíamos esperar, senão mais negação ainda. Mas desta vez não aconteceu. Logicamente que foi por influência direta da experiência adquirida no Pentecostes. Mas não foi só isso. Não foi somente pelo êxtase da descida do Espírito Santo sobre a sua vida. Foi também pela plena convicção de que não há no mundo inteiro outra forma, outro meio, outra pessoa, outro nome pelo qual a nossa salvação poderia ser conseguida.

Esta foi uma posição que se estendeu pelo restante da vida de Pedro. Um conhecimento que lhe serviu para analisar e julgar toda e qualquer situação à sua volta. O contexto agora não era mais Israel. O confronto agora não era mais contra o Sinédrio. Ele não estava mais na sua pátria. As pessoas a quem se dirigia não eram mais seus concidadãos. Estava em um país estrangeiro e se dirigindo a estrangeiros. É nosso texto de hoje.

Notem vocês que ainda assim o tom não muda. A premissa é a mesma: Todo aquele que se levanta reivindicando para si o título de salvador, todos aqueles que prometem liberdade, todos aqueles que engodam as pessoas com palavras jactanciosas não podem nos libertar porque eles mesmos são escravos do pecado e da corrupção. Restaria para nós apenas o cargo de escravos dos escravos. Com essas palavras Pedro volta a afirmar o que disse ao sumo sacerdote: Não há salvação em nenhum outro nome debaixo do céu. Seja em qualquer nível que a necessidade de salvação se apresentar.

Agora vamos deixar de pensar no que Pedro fez e pensar agora no que estamos fazendo. A pergunta sobre a escolha de Pedro poderia muito bem ser estendida aos dias de hoje: Por que a igreja?Em matéria de negação não ficamos devendo nada a Pedro. Do mesmo modo, também passamos nós pela experiência do Pentecostes. Estamos certos de que não há salvação em outro nome que não seja o de nome de Jesus. O que está faltando então para colocarmos em cheque toda mentira, todas as falsas promessas, todo arroubos dos caudilhos, todos os carismáticos que tentam usurpar a honra e a glória que é devida ao único e exclusivo nome pelo qual importa a nossa salvação? Não somente a salvação futura, mas a salvação aqui e agora. A salvação pleiteada por todos os que se manifestam o desejo de viver em um país salvo da miséria, da superstição, da corrupção e, principalmente, da maldade daqueles que são fonte sem água, nevoas levadas pelo temporal e para quem estão reservadas as mais densas trevas. 

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