Igreja cantando, iluminura do livro Taccuino Sanitatis (século XIV) |
Relembro importantes aspectos do louvor congregacional que
devem ser observados nos cultos a Deus. Estes foram recomendados pelo reverendo
John Henry Jowett no seu best seller “O
Pregador - Sua vida e obra” escrito em 1912, mas que é de uma atualidade tão
impressionante que parece ter sido publicado em primeira mão no jornal de
ontem.
Sobre a escolha dos hinos.
Alguns hinos são claustrais, sepulcrais mesmo, cheirando a
defunto, e distantes dos atuais meios de comunicação e da latejante pulsação
das necessidades comuns. O sentimento é quase doentio e anêmico. Não é capaz de
promover contrição nem aspirações. É lânguido, de romantismo fraco, mais
apropriados para uma tarde na terra onde vive o Lotus que para peregrinos lutando
em sua marcha para Deus. Além disso, estes hinos são escolhidos com
indiferença, e os usamos e cantamos com tal ausência de espírito que o culto
passa a ser mero pretexto musical. A coisa é vã e vazia de sentido e, através
da vacuidade deste "preliminar", levamos os participantes do culto à
verdade contida em nossa mensagem e esperamos que ela seja recebida. É um
método supinamente insensato este — usar como preparação para a receptividade
espiritual um mortal formalismo que fecha todos os poros da alma. Toda
artificialidade no serviço religioso é acréscimo às barreiras existentes entre
a alma e a verdade; toda veracidade prepara a alma para a recepção do Senhor. O
hino cantado antes do sermão, muitas vezes, agrava a tarefa do pregador.
Sobre a mensagem dos hinos congregacionais.
Há outra questão que desejo mencionar com relação aos nossos
hinos. Muitos hinos se caracterizam por individualismo exagerado que os pode
tornar impróprios para uso geral no culto público.
"Ele me amou assim!
E se entregou por mim!"
Todavia, penso que estes hinos de individualismo intenso
devem ser escolhidos com escrupuloso cuidado e oração. O culto público não é um
meio de graça em que cada um pode afirmar a sua individualidade e auferir
auxílio só para si da solenidade comum a todos os participantes; é, sim, uma
comunhão em que cada um pode auxiliar o irmão a alcançar "o que Deus tem
preparado para aqueles que O amam." Não se deve supor que a congregação é
uma porção de unidades isoladas, cada qual tendo em vista algo particular e pessoal
a buscar. O ideal não é que cada indivíduo acotovele e se esgoele a seu favor,
esticando o braço para tocar a orla das vestes de Cristo, e sim, que cada um
seja ternamente solícito para com o outro e trate com especial desvelo os que
têm "mãos ressequidas", tímidos e desanimados mesmo na presença do
grande Médico. Assim, o hino ideal para o culto público é aquele no qual nos
movemos juntos qual comunidade, suportando pecados uns dos outros, participando
das vitórias uns dos outros, "chorando com os que choram e alegrando-nos
com os que se alegram."
Sobre os músicos.
Libertem a música da condição de entretenimento humano e
façam que ela se torne uma revelação divina. Façam tudo para que ela nunca seja
um fim em si mesma, e sim, um meio de graça, uma realidade a ser esquecida na
alvorada doutra maior. Que nunca seja considerada como exibição de uma
habilidade humana, mas sim como transmissora de bênçãos espirituais; jamais
como terminal e sempre como passagem.
Sobre os pastores.
Portanto, conferenciem com o organista. Digam-lhe o que
pretendem fazer no domingo que vem. Não se arreceiem de levar a conversa para
questões mais profundas. Não o detenham nos átrios externos; conduzam-no ao
lugar secreto. Relatem-lhe o seu propósito referente a cada hino bem como a
influência que esperam cada um exerça sobre o público. Digam-lhe sobre que vão
pregar e levem-no pela senda bem central dos desejos que lhes vão à alma.
Contem-lhe que vão em busca do pródigo, ou a confortar os tristes, ou a
despertar os relapsos, ou a encorajar os débeis. Digam-lhe que parte do imenso
território das "riquezas insondáveis" os senhores pretendem desvendar
aos ouvintes, e façam que os olhos dele se encham da glória que os seus olhos
retêm. Aconselhem-se sobre o modo como ele pode cooperar com os senhores e
vejam que haja dois homens numa só mensagem grandiosa.
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