Oração, autor não identificado. |
A mentalidade moralista é o que nos leva a julgar os outros. O julgamento é destrutivo, ameaçador e a verdade é que todos têm medo de ser julgados. O meu problema não é tanto com Deus, é mais com os outros. Eu vejo tantas coisas erradas nos outros, e é aí que eu julgo todo mundo. Eu tento lutar tanto contra isso. Chega a ser engraçado. Até mais que engraçado, é um paradoxo. Quando eu quero fazer o que é certo, me torno juiz do bem e do mal.
O paradoxo é esse quando: quando confessamos o mal que fazemos ou louvamos ou bem quando fazemos, tornamo-nos mais aptos em julgar. Quando desmascaramos os maus e quando homenageamos os bons nos tornamos moralista. Achamos que temos o direito divino de julgar os outros. Isso é algo impossível de evitar, mas é essa atitude de julgar que nos faz ter medo uns dos outros. Essa atitude de julgar os outros é que nos divide tanto. Quantos casamentos se desfazem pelo medo de ser julgado. Vejam a noiva antes do casamento. Ela está radiante. É o dia mais lindo da vida dela. A que se deve isso? Ao milagre do amor e da alegria, muitos diriam. Mas eu penso que há algo mais acontecendo com ela: finalmente ela encontrou o homem que não a desaprova. Como isso é importante.
O ditado diz que o amor é cego. Felizmente eu acho que ele é mesmo. Quando celebro uma cerimônia de casamento a impressão que tenho é que posso pedir a noiva que diga qualquer coisa, por mais absurda que seja ela vai repetir. E o noivo então? Ele a olha e sorri, e sem pensar no que foi dito o noivo acha tudo uma maravilha. Ele acha mesmo, não está fingindo não. O amor é cego mesmo. Nesse clima, a noiva conta tudo de sua vida, conta até o que não contou a ninguém. O noivo não somente aceita como entende, e aí ele também tudo de sua vida, conta até coisas mais vergonhosas. Cada um acha o outro mais maravilhoso. É o que acontece quando somos cercados de amor e confiança. É o que acontece quando não sentimos medo de sermos julgados, e quando, apesar dos nossos defeitos, somos admirados.
Mas realidade dura da vida é que a lua de mel não se prolonga para sempre. Um dia quando acordam, ela olha para ele e pensa: como está barrigudo esse homem. E ele está mesmo. Por outro lado, ele olha e pensa, como fala essa mulher. E fala mesmo. De repente, a mesa do café vira um campo de batalha onde nenhum dos dois sabe dizer alguma coisa para atenuar a tensão. Agora seus olhos foram abertos, e cada dia acrescenta mais um defeito à lista de coisas erradas que confirmam o julgamento que cada um faz do outro. Aqui surge o poder destrutivo do julgamento. Aqui cada um começa a ter medo do outro.
O medo não é só desse julgamento, mas também do julgamento do medo que cada um passou a demonstrar. Não há amor que resista. O julgamento quando promove abertamente a si mesmo e secretamente destrói pouco a pouco a admiração que existia pelo outro, tem a capacidade de anular a mais bela aliança já celebrada nesta terra. Tudo isso acontece sem que se perceba e antes até de que haja uma briga do casal. A destruição está declarada em virtude do julgamento do “você fez isso”, e “você deixou de fazer aquilo”.
Agora vamos ver esse mesmo fenômeno na igreja. (continua)
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