A última ceia, Shahrokh_Heidari |
Quando nós somos convertidos nos sentimos em casa quando estamos na igreja. Sentimo-nos confortados e consolados pelos irmãos da igreja. Nós somos transformados e conquistamos vitórias que jamais havíamos conseguido antes. A nossa chegada à família da fé é cercada de amor e carinho que nos faz sentir um gozo indescritível. Tudo começa tão bem, mas pouco a pouco a desilusão dá os seus primeiros sinais e as decepções não tardam.
Nós começamos a notar certas coisas na igreja, e normalmente começamos pelo pastor, que não é o santo que todo mundo espera que seja. Notamos que na comunidade cristã existe muita gente que tem uma conversa bonita, mas cuja convivência é muito desagradável. Que gostam de exibir as suas virtudes cristãs, mas que são carentes de amor cristão. De imediato começamos a pensar são fariseus, não são? E o julgamento está lá. A calúnia trata de acrescentar os defeitos que faltavam, e de repente nos sentimos culpados por termos participado de algum julgamento conjunto com essas pessoas sobre uma terceira a quem nem conhecemos direito. Se sente arrependido por ter participado de uma conversa que não gostaríamos de ter escutado. E começamos a constatar que dentro da igreja de Jesus Cristo, e talvez mais do que no mundo lá fora, existe um julgamento mútuo e que ninguém traz à tona o medo de ser julgado. Tenho um amigo no Rio, que já foi desenganado pelos médicos, que dizia o mesmo chavão para certas atitudes dos crentes: se fosse no mundo tomava um tiro na cara.
Isso nos faz começar a duvidar da graça de Deus, e a nossa experiência avassaladora da conversão, que nos fez pessoas melhores, começa a perder o seu esplendor. Todo esse estado de coisas nos faz recair nas falhas anteriores à conversão. É o julgamento que fez o seu trabalho destruidor.
Então, qual é a resposta? Há alguma esperança? Eu tenho que ficar preso nessa atitude moralista em que eu fico julgando os outros? Eu vou levar para o túmulo esse medo terrível de ser julgado? O que pode nos salvar dessa escravidão? Onde está a solução?
Eu penso que ninguém pode se livrar desse mal do julgamento por si próprio. Você pode fazer pactos, promessas, se indignar, ranger os dentes, mas não vai conseguir. O espírito de julgamento que existe entre nós, na nossa igreja e em todas as igrejas, só começarão a desaparecer quando eu reconheço o meu próprio pecado e começo a admiti-lo abertamente. Não há outra solução. Não há nada nesse mundo com tanto poder de contágio quanto a confissão verdadeira. Diante dela todo o espírito de julgamento cai e o espírito de amor desabrocha.
A graça incondicional de Deus que nos dá a capacidade de não julgar. Deus nos ama incondicionalmente como eu sou e como eu estou, por isso eu posso amar você como você é e como você está sem julgamento. É a única base. Como no casamento, quando o casal de repente experimenta uma transformação milagrosa. Quando cada um reconhece as suas próprias falhas e cada um desabafa com o outro, assim acaba o julgamento e o medo. Um novo amor irresistível irrompe-se naquele lar. A mesma coisa acontece na igreja.
O que nos atrapalha é desse negócio de que eu faço o que você não faz, e de que eu não faço o que você faz é que vem o julgamento. É neste nível: fazer e não fazer. Todos os julgamentos múltiplos acontecem na igreja neste plano. Todos os julgamentos são manifestações de desprezo pelos outros e a tentativa velada de impor aos outros a nossa maneira de ser e de fazer. Essa mudança só acontece quando a pessoa ouve a mensagem de que é perdoada e de que é aceita.
Ao tomarmos a Ceia do Senhor lembremo-nos sempre disso: não participamos dela pelo que fizemos ou pelo que deixamos de fazer. Não fomos convidados à mesa porque merecemos estar ali. Pelo contrário. É um sacramento. É um sinal visível de que a graça de Deus me perdoou, me aceitou e retirou todo o julgamento que pesava sobre mim. Por isso é que todo mundo é convidado. Por isso é que todo mundo pode ser perdoado. Por isso é que todo mundo pode ser aceito.
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