Os doze dias do Natal

Simbolismo religioso dos doze dias do Natal
Texto do rev. Carlos Caldas†

Quem me conhece sabe o quanto sou admirador e, dentro das minhas limitações, divulgador da tradição do calendário litúrgico cristão. Não canso de admirar a riqueza da sabedoria e da densidade de conteúdo teológico e pastoral dos antigos, que formularam, ao longo de sabe-se lá quanto tempo, o calendário eclesiástico. Há diferenças algumas vezes, por exemplo, entre romanos e luteranos, anglicanos e ortodoxos orientais. Mas a essência do calendário é basicamente a mesma, a despeito de uma ou outra variação. E conforme esta tradição, a comemoração do Natal é muito maior, muito mais longa. Pelo menos, deveria ser.

Infelizmente estas tradições vão se perdendo, até em igrejas reconhecidamente litúrgicas, como as mencionadas. Nas não litúrgicas então... ontem por exemplo, participei de culto em uma igreja que, se não é litúrgica como a Anglicana, não é, ou pelo menos, não deveria ser, tão “livre” e tão desvinculada da tradição cristã. Confesso, e desabafo, que fiquei triste ao ver que, conscientemente ou não, segue-se, não a tradição litúrgica cristã, mas a lógica do mercado. Para o comércio, o Natal já passou. E para a maioria absoluta das igrejas, já passou também. Isto não aconteceria se houvesse um zelo maior pela tradição litúrgica cristã.

Conforme esta tradição, estamos no tempo que nos países de língua inglesa é conhecido como Christmastide – “Quadra do Natal”, em bom português. Neste tempo, há, não apenas nos países de língua inglesa, mas no norte da Europa em geral, a tradição dos Doze Dias do Natal, período que vai de 25 de dezembro a 5 de janeiro. Dentro da Quadra de Natal está a Oitava de Natal, que vai de 25 de dezembro a 1 de janeiro. Em inglês estes doze dias são conhecidos como Twelvetide. O dia da Epifania, 6 de janeiro, é o dia que fecha o ciclo natalino, que na verdade, iniciou-se com os domingos do Advento, ou seja, quatro semanas antes de 25 de dezembro. Estou mais que convencido que uma comemoração assim ampliada do Natal é benéfica em todos os sentidos. Mas infelizmente alguns fatores fizeram o calendário litúrgico cristão “encolher”, por assim dizer: uma onda secularista muito grande (fortalecida pela crença iluminista tão forte em nosso meio de uma entidade abstrata conhecida como “estado laico”, que na verdade é antirreligioso, gerando na prática uma contradição de termos), a influência do comércio, com a figura do Papai Noel, e o quase culto à virada de ano, como se houvesse algo mágico na noite de 31 de dezembro para 01 de janeiro (esta é uma tendência recente, mas que se torna cada vez mais forte). Estes fatores acabaram por eclipsar a importância do Natal prolongado, pensado, programado e previsto no calendário litúrgico cristão.

Vamos pensar em um Natal prolongado. Um tempo maior de reflexão sobre este acontecimento ímpar, sem paralelo na história das religiões, que é o anúncio do Deus que abre mão dos seus poderes e se torna uma criatura. Como disse um dos Pais da Igreja, “o Filho de Deus se tornou filho do homem, para que os filhos dos homens se tornassem filhos de Deus”.


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