Nas mãos de Deus, Angelisse |
Eu pergunto: quem, realmente, é culpado? Até onde vai a latitude da liberdade que produz responsabilidade humana?
Os cientistas falam, em geral, das influências que a sociedade exerce sobre o homem, e das próprias limitações biológicas que herdamos de nossa família, através da hereditariedade. Leia o livro de Carolina Maria de Jesus — Quarto de Despejo — e pense se é justo julgar alguém que vive no despejo da vida, e em absoluta miséria, com os mesmos critérios que aplicamos às classes sociais privilegiadas.
Há dois vícios comuns no ato de julgar: impiedade com os que catalogamos e extrema tolerância para com os nossos próprios equívocos. Localizamos, no primeiro caso, a chamada Santa Inquisição. Quanto à autotolerância, deixe-me dar um exemplo. Foi encontrado antigo manuscrito, escrito, talvez, por algum fariseu, que trazia mais ou menos este relato: “Se Deus for salvar apenas dez pessoas em todo o mundo, entre as dez estaremos eu e o meu filho. Se for salvar oito, entre elas estaremos eu e o meu filho. Se for salvar duas pessoas, seremos eu e o meu filho. Mas se Deus for salvar somente uma pessoa em todo o mundo, serei eu.” Sem comentários.
Os juízes escrupulosos da antiga China purificavam-se com jejuns e outras práticas, antes de julgar alguém. Pediam, frequentemente, novos prazos, para melhor se aprofundarem na questão. E, não raro, absolviam o réu quando havia dúvida quanto à sua culpa.
E nós? Cultivamos o mesmo escrúpulo? Se você aceita minha opinião, ouça a recomendação de Tiago. Deixe o julgamento do outro nas Mãos de Deus. São boas Mãos.
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