República do stand up

Michelangelo e Susanne Posel
Pode ser até que eu esteja exagerando, mas que a total falta de elaboração dos nossos cultos tem feito com que o improviso se tornasse regra e não exceção. São pastores chamando pessoas ao púlpito para passarem recados de última hora, alguém que é requisitado para fazer oração de interseção sobre o tema que não tem conhecimento ou mesmo as mensagens dos pregadores dos intervalos gospel. Podemos dizer que o imediatismo do mundo atual atingiu a igreja em cheio.

Não somente a ordem e a solenidade do culto, mas Bíblia também tem sofrido bastante com esse mal. São poucos aqueles que, ao citá-la, o fazem com um conhecimento abrangente de todo o contexto onde a citação está inserida. O que está valendo mesmo é chamada, a manchete da capa, o conteúdo que vem no corpo do texto já não serve mais para falar diretamente aos corações. Por conta disso, deve ser relevante apenas para aqueles que se propuseram a ler a Bíblia toda no espaço de doze meses, motivados por uma campanha extemporânea.

“Tudo posso naquele que me fortalece.” “Em todas as coisas somos mais que vencedores.” “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” “Eis-me aqui, envia-me a mim.” “Todas as coisas são possíveis àquele que crê.” E a essas mensagens curtas de capa podemos acrescentar algumas outras que nem sequer constam nas Escrituras, mas que pela persistência passaram a ter a força de um autêntico versículo bíblico: “Esforça-te que te ajudarei.” “O pouco com Deus é muito.”  “A voz do povo é a voz de Deus.” E o mais fatídico de todos: “Cada um por si e Deus por todos.”

Esse último, então, é o típico exemplo que Parece mais a República do Stand Up, onde é ouvido aquele que consegue falar o maior número de versículos para respaldar um tema que não necessariamente tem a ver com a mensagem que o pregador quer transmitir.

Não estou bem certo se já abordei este tema anteriormente em alguma postagem. Se não, tenho que confessar que o faço tardiamente, posto que o que eu mais temia já aconteceu. Não foi bastante fazer do culto um programa de auditório ao vivo. Não foi suficiente descontextualizar os inspirados textos bíblicos. Não se contentaram em colocar em paralelo ditados populares e as Sagradas Escrituras. Foram ao extremo do absurdo. Como bem lembrou Fabrício Cunha: A teologia da Prosperidade colocou na boca de Deus palavras próprias do diabo: Tudo te darei se prostrado me adorares. 

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