Não há conexão entre Mariana e Paris. (Talvez haja muito
ouro das Minas Gerais no Louvre e em algum palacete parisiense, mas isso é
outra história). Não comungo da ideia que uma tragédia é mais ou menos
importante que a outra. Isso só apareceu dada a proximidade cronológica entre
os dois episódios.
Mas há uma relação estreita entre as ocorrências. Em
Mariana, uma mescla de ganância, descaso e impunidade. Em Paris, o encontro de
cultura, religião, política e seus fundamentalismos (de "esquerda" e
de "direita"). Por trás de ambos, um modo de vida pautado pelo
consumo. Consumismo de coisas e de ideias. Afinal, o que é fundamentalismo
senão o consumo alienado de ideias?
A modernidade ocidental produziu grandes conquistas,
especialmente inovação e liberdade. Mas tem forjado, como efeito colateral,
incentivo ao consumo desenfreado e a absurda concentração de renda nas mãos de
tão poucos.
Pode não ser óbvio, mas a forma dos fundamentalismos dos
quais assistimos atrocidades diariamente é a mesma que elogia o jeito ocidental
de ser. Não são "eles" contra "nós". Somos todos algozes e
vítimas de um mesmo esquema.
Chorar as vítimas faz parte. Mas superar a lógica dos
"atentados" e "acidentes" passa, necessariamente, pela
reordenação da consciência. Enquanto persistimos no consumo insano e no
preconceito ignorante, as coisas só tendem a piorar.
E não sejamos hipócritas: quem é que não simpatiza com um
telefone novo e não flerta com a liberação das armas?
Enfim, há lei de oferta e procura em tudo. Só há necessidade
de tanta extração mineral porque há, na outra ponta, consumo. Só há
fundamentalismo, porque há doutrinas monoteístas e de salvação universal.
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