Mariana e Paris

Blackrock Foundry, www.icy-veins.com
Texto do rev. Ricardo Lengruber

Não há conexão entre Mariana e Paris. (Talvez haja muito ouro das Minas Gerais no Louvre e em algum palacete parisiense, mas isso é outra história). Não comungo da ideia que uma tragédia é mais ou menos importante que a outra. Isso só apareceu dada a proximidade cronológica entre os dois episódios.

Mas há uma relação estreita entre as ocorrências. Em Mariana, uma mescla de ganância, descaso e impunidade. Em Paris, o encontro de cultura, religião, política e seus fundamentalismos (de "esquerda" e de "direita"). Por trás de ambos, um modo de vida pautado pelo consumo. Consumismo de coisas e de ideias. Afinal, o que é fundamentalismo senão o consumo alienado de ideias?

A modernidade ocidental produziu grandes conquistas, especialmente inovação e liberdade. Mas tem forjado, como efeito colateral, incentivo ao consumo desenfreado e a absurda concentração de renda nas mãos de tão poucos.

Pode não ser óbvio, mas a forma dos fundamentalismos dos quais assistimos atrocidades diariamente é a mesma que elogia o jeito ocidental de ser. Não são "eles" contra "nós". Somos todos algozes e vítimas de um mesmo esquema.

Chorar as vítimas faz parte. Mas superar a lógica dos "atentados" e "acidentes" passa, necessariamente, pela reordenação da consciência. Enquanto persistimos no consumo insano e no preconceito ignorante, as coisas só tendem a piorar.

E não sejamos hipócritas: quem é que não simpatiza com um telefone novo e não flerta com a liberação das armas?

Enfim, há lei de oferta e procura em tudo. Só há necessidade de tanta extração mineral porque há, na outra ponta, consumo. Só há fundamentalismo, porque há doutrinas monoteístas e de salvação universal.

Em tempo: as armas usadas em Paris são tecnologia russa, alemã ou americana; mas a matéria prima, provavelmente, saiu de minas das periferias desse planeta (não me assustaria se tivesse sido extraída das nossas Gerais).

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