À procura de um bom perfil

São Paulo, Catedral de Abbey em Saint Gallen
Texto cedido pelo Revmo. Bispo Josué Adam Lazier

Tema para uma roda de conversa.
Hoje se fala muito em perfil. Seja nas empresas, nas grandes corporações, nos meios políticos, na educação e na igreja. Busca-se o melhor perfil para determinadas situações da vida, do mundo ou dos negócios. Na igreja não é diferente. A busca por líderes que tenham um “bom” perfil é recorrente. O bom líder é aquele que tem “tal” perfil. O problema é saber quem define o “bom” perfil.

Não entrando no mérito, mas já estando envolvido, vou citar o exemplo do que poderia ser identificado como um “bom” perfil. Falo de Paulo de Tarso, mais conhecido como apóstolo Paulo. Para isto, consulto a Primeira carta aos Tessalonicenses (abra a sua bíblia e acompanhe as citações).
O capítulo 2 da Primeira carta aos Tessalonicenses nos ajuda a traçar o perfil deste líder no período da Igreja Primitiva e serve como inspiração para os líderes hodiernos. Para começar esta conversa, devemos lembrar que Paulo fundou a Igreja em Tessalônica no ano 49 d.C., durante a sua segunda viagem missionária. No mesmo ano ele respondeu a duas perguntas que os Tessalonicenses fizeram sobre os mortos e sobre o dia do juízo. Os membros daquela igreja eram trabalhadores (4.11-12): pescadores, empregados da construção civil, peões da agricultura, operários, metalúrgicos, artesãos, marinheiros, desempregados, escravos (que eram muitos na sociedade romana da época).

Uma questão entre eles ganhou importância: alguns membros da igreja faleceram e uma dúvida surgiu entre eles sobre o destino destes mortos. O assunto foi levado para Paulo, pois alguns pregadores estavam ensinando uma doutrina maléfica sobre o assunto e o apóstolo se sentiu impelido a escrever a primeira carta para corrigir os erros e apresentar a sua compreensão do assunto. Em outras palavras, Paulo preocupou-se com os membros da igreja que havia estabelecido em Tessalônica e ajudou-os a lidarem com seus dilemas. Ao responder as indagações, o apóstolo considera a diversidade entre a membresia da igreja e a conjuntura social, econômica, política e religiosa que vivenciam nos anos 50 da Era Cristã.

Uma pergunta nesta conversa: Como Paulo estabeleceu uma comunidade cristã num contexto tão diverso e com pessoas oriundas de diferentes situações de vida? A resposta está no “perfil” do apóstolo. Sugiro os seguintes aspectos a guisa de ponderação sobre liderança cristã:
1. O apóstolo deu atenção às inquietações dos membros da igreja. Dar atenção é dar ouvidos, é ouvir o clamor, ouvir além das palavras, ouvir a emotividade, é ouvir o “interior” das pessoas e caminhar com elas em qualquer circunstância da vida;

2. Paulo mostra ter desenvolvido um ministério compartilhado e divide com seus companheiros as glórias e as honras do trabalho realizado. Assim ele inicia a carta mencionando Silvano e Timóteo (1.1). Sem dúvida nenhuma, Paulo era o líder maior e a quem cabia a responsabilidade de dirigir o grupo missionário. Mas ele mostra esta característica de não trabalhar sozinho;

3. Paulo demonstra também otimismo e agradecimento pela vida dos Tessalonicenses (1.2). Podemos extrair 4 blocos de ação de graças presentes no texto de I Tessalonicenses:
a) ação de graças pela vida dos Tessalonicenses - 1.3-10;
b) pela vida dos Apóstolos - 2.1-12;
c) pela vida dos Tessalonicenses - 2.13-16 e
d) pela vida dos Apóstolos - 2.17-3.8;

4. Revela interesse pela vida dos Tessalonicenses mencionando-os sempre nas suas orações (1.2; também 2.13, 3.9). Como líder daquela igreja não deixava de agradecer a Deus pela vida do seu rebanho e de orar por cada um deles. No texto de 2.17-20 revela seu interesse de rever os Tessalonicenses;

5. Revela respeito e consideração pelas pessoas que o acolheram em Tessalônica e que acolheram o Evangelho, expressando que eles são a sua alegria, a sua esperança, a sua coroa e a sua glória. Com estas palavras, o apóstolo manifesta a sua afetividade pela igreja dos Tessalonicenses e abre seu coração para expor seus sentimentos. Ao fazer isto, se revela uma pessoa com emotividade, afetividade, responsabilidade e respeito pela diversidade que havia naquela comunidade.
Fica a pergunta: seria este um “bom” perfil para a liderança hoje? Quantos/as líderes estariam dispostos/as a desenvolverem este perfil em seus ministérios?

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