A escolta de Paulo, www.outsetministry.org |
Tenho tentado argumentar algumas vezes sobre a discriminação
que o autor dos Atos dos Apóstolos tem velada e sistematicamente exercida
contra o povo judeu do I século. Valho-me, principalmente, das quase trinta situações
trágicas em que os apóstolos e discípulos se viram envolvidos, tanto pela culpa
destes mesmos judeus, quanto da sua liderança religiosa, segundo expõe Lucas.
Mas os judeus,
vendo as multidões, tomaram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que
Paulo falava (13.45). Mas os judeus
instigaram as mulheres piedosas de alta posição e os principais da cidade e
levantaram perseguição contra Paulo e Barnabé, expulsando-os do seu território (13.50) Quando amanheceu, os judeus se reuniram e,
sob anátema, juraram que não haviam de comer, nem beber, enquanto não matassem
Paulo (23.12). São estes os tipos de citações às quais me refiro, mas
outras mais graves, tais como: E alguns
judeus, exorcistas ambulantes, tentaram invocar o nome do Senhor Jesus sobre
possessos de espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo
prega (19.13), onde ele faz uma associação direta deles com os símbolos
máximos da maldade. Embora o
Judaísmo não representassem para os cristãos da época uma religião antagônica ou mesmo estranha.
Judaísmo não representassem para os cristãos da época uma religião antagônica ou mesmo estranha.
Também, de forma bem escancarada, Lucas tenta desonerar os
romanos por todo mal estava sobrevindo sobre a igreja, como também o que
sobreveio a Jesus, inclusive a crucificação. Este homem foi preso
pelos judeus e estava prestes a ser morto por eles, quando eu, sobrevindo com a
guarda, o livrei, por saber que ele era romano (23.27). Para Lucas, embora
Jesus tenha sido torturado e morto por exclusiva força do império romano, foram
os judeus que levaram a situação a este clímax.
Porém, há um fato, que me quase escapou entra as linhas
deste poderoso texto, mas que me mostrou objetivamente o ódio com que aquele povo
recebeu a igreja primitiva: a escolta que acompanhou Paulo no seu trajeto para
Roma. É justamente o nosso texto de hoje. Observem que dois centuriões, setenta
homens de cavalaria e duzentos lanceiros não seriam disponibilizados apenas
para evitar que Paulo escapasse da ordem de prisão. A ameaça também não teria
como ter partido das poucas dezenas de cristãos recém-convertidos, em uma
possível tentativa de soltar o pastor do seu rebanho. Resta-nos, então, a
conclusão de que não era uma escolta para impedir uma fuga, mas sim um sequestro,
pois somente o Sinédrio poderia arregimentar um efetivo que justificasse
tamanha proteção.
Não é minha pretensão nomear, justificar ou condenar pessoas
ou grupos das atrocidades ocorridas com os nossos irmãos da igreja do início do
Cristianismo. Gostaria apenas de mostrar as dificuldades que precisariam ser
vencidas para que a nossa fé vingasse. Não bastasse ela não ter uma tradição
secular; não bastasse ela não ser uma religião de mistérios, o que muito atrairia
o interesse dos romanos; não bastasse ele ter nascido em um obscuro recanto
irrelevante política e socialmente falando; não bastasse o seu líder ter
morrido na presença de muitos e ressuscitado apenas para poucos, havia que ter
também toda uma repressão do meio do qual ela nasceu.
O teólogo Paulo Richard, um dos colaboradores do livro A
luta dos Deuses, tem para mim a chave para desvendar as razões reais desse
enigma, quando ele diz: em um mundo
oprimido, a evangelização deve chocar-se fundamentalmente com a idolatria e não
com o ateísmo. Tenho para mim que este é no momento em que vivemos hoje
podemos trocar a palavra oprimido por globalizado. Por esta simples troca vamos
inferir que maior perigo à fé cristã hoje não vem das forças inimigas, das
perseguições assassinas ou mesmo dos pensadores antagonistas, mas de dentro da própria
igreja, quando esta tenta fazer do Cristianismo uma fé conservadora, burguesa e
acomodada.
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