Pedro e Ananias, Nickolas Campbell |
Leia Atos 5.1-11
Texto baseado em sermão do rev. Garrison.
Não foi a toa que me demorei bastante tempo para falar sobre esse complicado texto bíblico. Sei bem o quanto foi estranho esse acontecimento e o quanto ele difere de todo o contexto do Segundo Testamento. Então, como podemos entendê-lo? Somente um estudo profundo das entrelinhas do texto poderia nos esclarecer alguns pontos que normalmente não levamos em consideração.
Primeiramente, a igreja primitiva é diferente da igreja que
conhecemos hoje em vários aspectos. Um deles era o tratamento que dispensavam
uns aos outros. Compartilhavam tudo o que tinham por causa do seu amor a
Cristo. As palavras de Pedro dirigidas ao mendigo na porta do templo revela a
qualidade de vida deles. O homem lhe pediu uma esmola e ouviu dele o seguinte:
At 3.6 – Eu não tenho nenhum dinheiro,
mas o que eu tenho dou a você. Barnabé ficou conhecido entre eles porque
vendera um terreno que possuía e entregou o dinheiro aos apóstolos. Em At 4.32
lemos: Todos os que creram pensavam e
sentiam do mesmo modo. Ninguém dizia que as coisas que possuía eram somente
suas, mas todos repartiam uns com os outros tudo o que tinham. Pois foi
justamente na hora em que se revelou de modo mais acentuado esse sentimento
mútuo que Ananias e Safira se tornaram instrumentos de divisão e desunião. Eles
pleitearam a mesma aclamação que Barnabé tinha recebido, só que pagando um
preço bem menor. Engendraram um plano em que eles poderiam vender o terreno e
ainda assim criar a ilusão de que haviam doado tudo à igreja, como Barnabé fez.
Investidos de uma hipocrisia bem acentuada, o casal guardou bem escondido uma
parte do dinheiro. Sob todos os aspectos foi um gesto comovente que chamou a
atenção de todos: Ananias indo à frente da congregação e depositando o dinheiro
aos pés dos apóstolos.
Assim começou a batalha entre Satanás e a igreja de Jesus
Cristo. O fator em questão era a própria sobrevivência desta última. Mas o dom
de discernimento de Pedro foi ainda maior do que o subterfúgio da Ananias e
Safira. Pedro percebeu que naquela manifestação exagerada de zelo tinha mais
orgulho pessoal do que piedade. Ananias queria que todos vissem o que ele
estava fazendo, por isso, se entusiasmou demasiadamente, não conseguiu
disfarçar com a sua espiritualidade atrapalhada, o enorme embuste por trás do
seu ato. Em uma clareza marcante, Pedro desmascarou diante de todos a falsidade
dele: At 5.3 - Por que você deixou
Satanás dominar o seu coração? Por que mentiu para o Espírito Santo? Por que
você ficou com uma parte do dinheiro que recebeu pela venda daquele terreno?
Antes de você vendê-lo, ele era seu; e,
depois de vender, o dinheiro também era seu. Então por que resolveu fazer isso?
Você não mentiu para seres humanos — mentiu para Deus!
O ponto era seguinte: vender o terreno e doar à igreja não
era um pré-requisito para se tronar membro. Este ato generoso não era uma
obrigação, mas uma ação voluntária em resposta ao amor de Cristo, sentimento
pelo qual Ananias não estava tomado. Ele queria apenas obter popularidade,
prestígio e reconhecimento, mas por outro lado, Pedro sabia que se esse ardil
se tornasse modelo para a igreja, os dias de poder do espírito e de glória
divina sobre eles estariam com os dias contados. Esse tipo hipocrisia tem que
ser cortado na raiz. Não poderia haver na igreja ostentação, pretensão,
fingimento, nem artimanhas. Iria contaminar a comunidade toda. E assim, a
exposição da sua fraude foi demais para o coração de Ananias. Certamente ele
foi tomado pelo trauma da culpa, coisa que eu bem entendo, e isso se tornou
para ele insuportável.
A igreja, por sua vez, aprendeu a reconhecer como age um
hipócrita, um fraudulento, um mentiroso. Alguém que tentou enganar a Deus e a
eles mesmos. Tal exposição produziu em Ananias uma contração muscular tão forte
que ele sucumbiu ali mesmo. Não sei como explicar isso cientificamente, mas sei
como ele se sentiu diante de uma congregação que primava pela honestidade,
moralidade e pela comunhão de propósitos.
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