O que é FACE?

Moisés, o iluminado, Daffy Duck
O rosto e o coração. 
Como o reflexo do rosto na água, assim é o coração do homem para o homem (Pv 27.19): o espelho da água revela o paradoxo do rosto humano; ele é, da pessoa, a um tempo o que vê e o que é visto; o face-a-face dos encontros humanos simboliza e suscita o reconhecimento interior dos corações.

Pois o rosto é o espelho do "coração. Nele se lê não só a dor, a fadiga, ou a aflição, mas também a alegria do coração em festa, a severidade que um pai deve mostrar às suas filhas, mas também a dureza implacável contrariada em sua soberba: com efeito, o coração do homem modela o seu rosto, seja no bem seja no mal (Sl 13.25). 

Mas o espelho do rosto pode ser enganador. Enquanto o homem está inclinado a julgar pelas aparências, Deus olha só no coração e julga as ações humanas segundo os corações.

O rosto do príncipe. 
As relações entre súdito e príncipe se exprimem num jogo de rostos: pede-se para ver a face do rei (IISm 14.32), mas na sua presença faz-se a prostração ao chão: caindo sobre a própria face (IISm 1.2). É insigne favor poder olhar o rosto do rei, é uma graça de que se fica ansiosamente à espreita vê-lo iluminar- se num sorriso, pois na luz do rosto do rei está a vida (Pv 16.15).

Buscar a face de Deus.
Se bem que Deus não seja um homem e que criatura alguma possa dar uma ideia da sua glória, ele tem, como um homem, desígnios e intenções, e quer entrar em comunicação com o homem; tem portanto, também ele, um rosto. Ele pode alternadamente mostrá-lo na sua benevolência e escondê-lo na sua ira.

Em meio a Israel habita esse rosto divino. Invisível, ele está contudo cheio da extraordinária vitalidade do Deus vivo, e esta presença da face divina é a força do seu povo. É ela que dá seu pleno valor à aspiração cultual de "ver" a face de Deus, de “"buscar" a face de Deus. Mas como o rosto de Javé é o do Deus santo e justo, só os corações retos contemplarão a sua face.

O face-a-face com Deus. 
A face de Deus é mortalmente temível para o homem por causa do seu pecado; ela é a vida e a salvação do homem. Excepcionalmente, Javé conversava com Moisés face a face, como um homem conversa com seu amigo. Mas quando Moisés pede para ver a glória de Deus, não vê Deus senão de costas. Seguir alguém é vê-lo de costas. Assim Moisés que ardia em desejo de ver a face de Deus aprende como se vê Deus: seguir Deus em toda a parte aonde ele conduz, isso mesmo é ver Deus (Gregório de Nissa).

A face de Cristo.
Deus nos fez brilhar o seu rosto e nos fez graça. Sobre essa face resplende a glória de Deus; a glória da Transfiguração é o sinal de que em Jesus o próprio Deus se deu um rosto, e que nele se mostrou a face que ninguém jamais viu: Quem me viu o Pai (Jo 14.9). É uma face humana, escarnecida, velada, desfigurada, mas é a efígie da substância divina.

Por ter visto a glória desse rosto, o cristão, pelo Espírito Santo que nele habita, fica permanentemente iluminado e transformado, não, como o rosto de Moisés, com uma manifestação passageira, mas com uma irradiação de vida e de salvação: Nós todos que, de rosto descoberto, refletimos como num espelho a glória do Senhor, nos transformamos nessa mesma imagem, sempre mais gloriosa, como convém à ação do Senhor que é Espírito (2Co 3.18). É essa glória de Deus sobre a face de Cristo que o serviço do Evangelho faz brilhar sobre toda consciência humana.

Assim transfigurados no Espírito pela glória do Senhor, os cristãos têm a certeza de descobrir um dia face a face aquele que ainda não conhecem senão num espelho”, de conhecer como são conhecidos, de ver Deus”. Assim será plenamente atendido o desejo que atraía Israel ao Templo: O trono de Deus e do Cordeiro estará posto, e os servos o adorarão, verão a sua face (Ap 22.3).

Fonte: Vocabulário de Teologia Bíblica. Vozes - 1984.

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