Dorian Gray na Projettare |
Meditação inspirada e orientada pelo Rev. Jonas Rezende.
Nietzsche considerava o Cristianismo o mais baixo
aviltamento do ideal humano, inclusive, uma vez, chegou a chamá-lo de moral de
escravos. Porém, o fato para o qual ele nunca atentou foi que o cristão é
constrangido pelo amor a Cristo a ser um escravo voluntário e quem mais, senão
o homem livre, pode optar voluntariamente pela servidão?
Não estou querendo dizer com isso que esta seja de fato uma tônica
predominante nos círculos evangélicos, mas sim que deveria ser a atitude que
mais identificaria o cristão nos dias de hoje. Na realidade, não foi bem Cristo
quem primeiro semeou esta ideia no meio do povo de Deus. Há muito os profetas já
se sentiram por inteiro dentro desse paradoxo, porque, pois mais que se
sentissem libertos e prontos para o enfrentamento com os poderosos agindo pelo
Espírito de Deus que repousava sobre eles, mais se sentiam na inescapável obrigação
de propagar uma mensagem que quase nunca era confortável ou que sequer seria segur ao mensageiro.
A questão se torna bem mais complexa quando passamos a
analisar o pensamento que o homem faz de si mesmo antes de qualquer
consideração sobre o que enleva e o que avilta o ideal humano. O patriarca Jó discorre sobre a sua condição, que imagino ser a condição da grande
maioria das pessoas que um dia fez este julgamento de si mesma: Não é penosa a vida do homem sobre a terra?
Não são os seus dias como os de um jornaleiro? Como o escravo que suspira pela
sombra e como o jornaleiro que espera pela sua paga? Parece-me que este
escritor está sugerindo que de uma forma ou de outra sempre nos sentimos
escravos de alguém ou de alguma coisa. Então a consideração a ser feita sobre o
ideal humano passa antes pela avaliação dos critérios que esse ideal será
medido.
É costume se dizer que tudo o que Kierkegaard pregou no seu ministério pastoral, Nietzsche despregou com a sua filosofia. Mas mesmo o próprio Nietzsche considerava que a sociedade em que vivia estava condicionada a dois tipos de moralidade: a moral dos aristocratas, principalmente os loiros, que se sentiam superiores, bravos e autênticos e a moral dos plebeus, principalmente os morenos, a quem cabia a reputação de fracos, covardes e vulgares. Ou seja, nem ele mesmo estabeleceu um limite entre a escravidão voluntária e a imposta.
Aqui
se estabelece uma questão crucial para a nossa meditação: o
julgamento que o filósofo alemão fez do Cristianismo do seu tempo seria um
estímulo ou uma crítica ao Cristianismo de hoje? (continua)
É costume se dizer que tudo o que Kierkegaard pregou no seu ministério pastoral, Nietzsche despregou com a sua filosofia. Mas mesmo o próprio Nietzsche considerava que a sociedade em que vivia estava condicionada a dois tipos de moralidade: a moral dos aristocratas, principalmente os loiros, que se sentiam superiores, bravos e autênticos e a moral dos plebeus, principalmente os morenos, a quem cabia a reputação de fracos, covardes e vulgares. Ou seja, nem ele mesmo estabeleceu um limite entre a escravidão voluntária e a imposta.
Voltando ao voluntarismo cristão pela escravidão, que se
traduz em um serviço de amor ao semelhante, vamos perceber que este não é um
ideal dos mais simples a ser seguido, ou de simples aceitação, porque ele exige
diversas condições que a natureza humana rejeita desde a sua mera citação. Uma
delas é a aceitação da perda ou do prejuízo material de bom grado e sem
resistência alguma. Jesus Cristo ditou esta norma algumas vezes, porém, a mais
contundente foi em Mateus 5.40: Se alguém
processar você para tomar a sua túnica, deixe que leve também a capa.
Em meio a doutrinas que pregam a prosperidade, a retribuição
e a restituição fica meio complicado se fazer qualquer associação com esta
ideia, e seria bem provável que Nietzsche nem se preocupasse em avaliar o ideal
cristão, porque ele não seria diferente do que o da sociedade em que estava
condicionado a viver.
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