Ovelhas e pastor, Anton Mauve |
Erro não é o mesmo que ignorância. Na Bíblia o erro não
consiste dos deslizes e nem dos extravios da inteligência em que os gregos o
situavam. Não sem reduz aos equívocos dos que são enganados pelas aparências e
nem à inadvertência que causa o mal e as injustiças. O erro é, antes de tudo,
infidelidade e rejeição da verdade. Seu efeito e seu castigo será o vagar
errante: Gn 4.11 - És agora, pois,
maldito por sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o
sangue de teu irmão. Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força; serás
fugitivo e errante pela terra; sem direção ou objetivo: Os 9.17 - O meu Deus os rejeitará, porque não o ouvem;
e andarão errantes entre as nações; ovelhas sem pastor: Is 13.14 - Cada um será como a gazela que foge e como
o rebanho que ninguém recolhe; cada um voltará para o seu povo e cada um fugirá
para a sua terra.
No Primeiro Testamento o erro está situado plano religioso:
uma desobediência que cega. Errar é extraviar-se do caminho prescrito por Javé.
Conexo com a apostasia de Israel, o erro conduz à idolatria: Am 2.4 - Tal homem se apascenta de cinza; o seu
coração enganado o iludiu, de maneira que não pode livrar a sua alma, nem
dizer: Não é mentira aquilo em que confio? Geralmente ocorre do abandono da
Aliança com Javé. Só o justo caminha com segurança, os ímpios serão entregues
ao descaminho que Deus sanciona abandonando-os ao extravio: Jó 12.24 - Tira o entendimento aos príncipes do povo da
terra e os faz vaguear pelos desertos sem caminho. Caso não se convertam, o
endurecimento aumenta e o erro prolifera num crescimento de que são responsáveis
os líderes políticos, os levitas e os falsos profetas que prenunciam o erro
diabólico dos últimos tempos: Is 9.14 - Pelo
que o SENHOR corta de Israel a cabeça e a cauda, a palma e o junco, num mesmo
dia.
No Segundo Testamento, o erro escatológico atinge a sua
absolutização no contato com Jesus Cristo, a verdade em pessoa.
Jesus denuncia o erro dos seus contemporâneos e os apóstolos
advertem os fiéis contra eles. Mas tanto o Mestre quanto seus discípulos serão
enquadrados como impostores. A tal ponto se desgarram os fariseus que se deixam
obcecar, e juntamente com os príncipes desse mundo, se tivessem conhecido a
sabedoria de Deus, não teriam crucificado o Senhor da Glória.
Contudo, apesar do seu fracasso diante da Verdade, o erro
permanece ativo entre os pecadores, fazendo deles enganadores e enganados ao
mesmo tempo. Por isso se deve vigiar, desconfiar das fábulas propagadas pelos
falsos doutores e das vans filosofias humanas: Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de
filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os
rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porque nele habita corporalmente toda
a plenitude da divindade. O erro que fez com que o Judaísmo tardio chamou
seus agentes de anjos decaídos.
Prevendo o final dos tempos, Jesus preveniu seus discípulos
contra a sedução dos falsos profetas. De fato, esse espírito de erro, esse
mistério da impiedade, cresce até o fim dos tempos, quando se revelará a verdadeira
face do Anticristo, o sedutor do mundo inteiro: Ap 12.9 - E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e
Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele,
os seus anjos.
No entanto, a vocação da igreja é, e continuará sendo,
conduzir o pecador desgarrado que está longe da verdade, ao encontro da
esclarecedora luz divina: Tg 5.20 - Meus
irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei
que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma
dele e cobrirá multidão de pecados.
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