Saber vir e ir, eis a questão

Davi e Nathan, Julius Schnorr von Carosfeld
Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário. Então, ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti.

Leia Salmos 51

Texto do rev. Jonas Rezende.

John Mackay, missionário que se deu por completo à América Latina, escreveu um livro que expõe seu conteúdo a partir do título: A ordem de Deus e a desordem do homem. Deus cria o Cosmo, a harmonia, e nós produzimos o caos, a dissonância. É aí que surge a necessidade expressa por uma palavra antiga e desacreditada - conversão; metanóia, mudança de mente; a retomada do rumo perdido.

Davi, no presente salmo, fala do seu momento mais infeliz, quando usa mal o encantamento por Bethsabá, tornando-se traidor e assassino. O poema é de arrependimento e de dor pungente: purifica-me do meu pecado... cria em mim um coração puro.

O poeta assume então um compromisso diante de Deus, faz um verdadeiro juramento: então ensinarei aos transgressores os teus caminhos. E expressa a sua inabalável certeza, escudado na própria experiência: e eles se converterão a ti.

Com base no salmo e na Bíblia, vejo a conversão como dois movimentos aparentemente opostos que, no entanto, se complementam.

Primeiro, é preciso voltar-se para Deus, como fez Davi. As maneiras estão vinculadas ao nosso temperamento. Através da fé, como Abraão; da razão, como os magos do Natal ou Santo Tomás de Aquino; pela pureza, como a Virgem Maria; em meio a combatividade, como Paulo de Tarso; através da impulsividade, como Pedro; pela ingenuidade, como São Francisco de Assis; mergulhado na ação social como Amós e Tiago; nos combates, como os Juízes; pelo amor, como João; na vivência de experiências e paixões, como o rei Davi... E seja qual for o nosso caminho.

Mas a conversão implica também uma corajosa volta para o mundo, como fez Davi quando aceitou a missão política de governar seu povo.

Aliosha Karamasov, de Dostoievski, assim como o papa João Pau­lo II, mostram simbolicamente essa volta quando beijam a terra de todos os homens.

Shelley, o poeta, nos ensina que devemos sair do nosso horizonte individual, para encampar o horizonte da humanidade.

Saber vir e ir, este o segredo da conversão que o salmista quer partilhar com todos os homens. E os dois momentos se complementam porque são expressões do mesmo amor. Amor a Deus, através da fé. Amor ao próximo, que se expressa por nossa dedicação e serviço.

Uma canção cristã tradicional nos ensina:

Atente bem para isso:
seja aqui ou onde for,
vida de fé e serviço
é sempre vida de amor.

O salmista certamente concordaria com esta canção e, especialmente, com Albert Camus, que nos oferece o seu achado: Só conheço um único dever, o de amar.

E você?

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