Esperança ou morte

A morte da esperança, Dominic Schmitt
Esbraseou-se-me no peito o coração; enquanto eu meditava, ateou-se o fogo; então, disse eu com a própria língua: Dá-me a conhecer, SENHOR, o meu fim e qual a soma dos meus dias, para que eu reconheça a minha fragilidade. Leia Salmos 39

Texto do rev. Jonas Rezende

Com a criativa música de Lulu Santos, a bela letra de Nelson Motta ganha expressão ainda mais bonita e poderosa na lindíssima voz de Tim Maia: Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará...

Quando tomei contato com essa canção pela primeira vez, foi como se ouvisse Heráclito, filósofo grego que viveu antes de Jesus Cristo, a repetir como um profeta: Tudo flui, nada permanece. O mesmo homem não mergulha no mesmo rio, porque muda o rio e muda o homem.

Veja só como há uma convergência de pensamento entre pessoas e culturas tão diferentes. O rei Davi, neste salmo, também fala da vida humana como algo impermanente, provisório: o homem, para o poeta, passa como uma sombra; dinheiro e poder se tornam expressões fúteis de mera vaidade. Uma parte significativa do salmo nos transmite um tristonho tom de melancolia, que lembra Moisés em sua oração, que recebeu o número noventa no Saltério, onde o líder fala da impressionante brevidade da vida humana. Ou a constatação um tanto depressiva de Salomão: vaidade das vaidades, tudo é vaidade. Davi chega mesmo a dizer a Deus: desvia de mim o teu olhar, antes que eu passe e deixe de existir.

Espero que você concorde comigo. Se a vida é breve e passageira, vamos então vivê-la com intensidade. Cada momento tem sabor de eternidade, se nele mergulhamos de cabeça e por inteiro. Esse foi o estilo dinâmico de Davi. Era ainda uma criança quando combateu e venceu o gigante Golias...

Matusalém, na Bíblia, tem uma incrível longevidade, mas sua existência foi sempre vazia e não deixou marcas. Jesus viveu apenas 33 anos aproximadamente, e dividiu a própria História da humanidade. Pasolini concebe o Cristo, em seu filme O evangelho segundo São Mateus, agindo em clima de entrega e de urgência absolutas. Nem tudo então passa, ainda que venhamos a morrer. Porque tornamo-nos sementes. Aspergimos nossa energia como pólen fecundante. E Jesus interpreta: se o grão de trigo cair na terra e não morrer, fica só. Mas, se morrer, dá muito fruto.
Mas há um outro dado que confere dimensão eterna à vida humana e serve como verdadeiro antídoto contra a morte: a esperança verdadeira. O salmista está completamente certo quando confessa a Deus: tu és a minha esperança.

Isaías, o profeta, dá mais um passo, no mesmo espírito deste belo poema de Davi, quando assegura: os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas, como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam.

Alegro-me porque este salmo foi escrito por um homem que tinha, como eu, problemas, dúvidas e angústias. Mas possuía também a coragem da esperança. E então possuía tudo.

Esperança ou morte?

Chegou a sua vez de decidir.

Nenhum comentário:

ads 728x90 B
Tecnologia do Blogger.