Quem é o homem que ama a vida e quer longevidade para ver o
bem? Refreia a língua do mal e os lábios de falarem dolosamente. Aparta-te do
mal e pratica o que é bom; procura a paz e empenha-te por alcançá-la. Leia Salmos 34.
A grande misericórdia de Cristo, São Macário |
Texto do rev. Jonas
Rezende
Davi faz, neste salmo, a pergunta que destaco como título da
presente meditação. E ele mesmo a responde, como se fosse um manual prático de
ética. Quem ama a vida e quer ver o bem tem de descruzar os braços e viver com
espírito de serviço. E o salmista justifica sua resposta: os olhos do Senhor
repousam sobre os justos.
Acredito que nossa sociedade atravessa frequentes crises
exatamente porque não tem uma verticalidade ética. Conhecemos o progresso, mas
todos os avanços nem sempre têm um rosto ético, uma preocupação com o mundo,
com o outro e com o grande Outro, que chamamos Deus.
Há uma contínua crise de relação, que descaracteriza a nossa
própria destinação como seres humanos. Relacionamo-nos com a terra para
explorá-la e exauri-la. E aí estão a destruição da camada de ozônio, a chuva
ácida, o processo de desertificação, o extermínio irreversível de espécies
vegetais e animais todos os dias, a poluição dos rios e dos mares, a poluição
em todas as suas trágicas formas. O apóstolo Paulo, em tempos bem mais
pacíficos, já dizia que a Natureza geme esperando a redenção... Por outro lado,
Deus não passa, para boa parte das pessoas, de um substantivo abstrato. E do
nosso próximo só queremos retirar lucro ou prazer. Para o filósofo Martin
Buber, reduzimos o outro à posição de objeto, coisa, um isso qualquer.
Mas somos também assaltados por uma grave crise de
significado. Começamos o século XXI certos de que não aceitamos os velhos
valores estabelecidos. Até aí, tudo bem. O trágico, porém, é que não sabemos o
que vamos colocar no lugar deles. E muitas vezes o ser humano me parece um
satélite vivo perdido no espaço sideral. Os tóxicos ganham a juventude com
facilidade. A velocidade utilizada como fuga mata mais do que o câncer.
Profissões desaparecem e formam-se verdadeiras legiões de desempregados porque
não sabem viver em nosso admirável mundo novo...
Mas, veja bem. Assim como encontrar um eixo certo ajuda-nos
a alinhar as raias de uma roda de bicicleta, assim também me parece que,
enquanto não resolvermos o eixo de tudo em Deus, os desacertos continuarão.
O salmista, há tantos anos, a tantos milênios, tem
consciência disso - o que deixa claro em vários poemas que compõem o Saltério.
Aqui, o rei e poeta parte de uma experiência pessoal que bem pode ser
socializada: busquei o Senhor e ele me acolheu; livrou-me de todos os meus
temores. Contemplem-no e serão iluminados e seus rostos jamais sofrerão vexame.
Clamou esse aflito e o Senhor o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações.
O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra. Oh! provem e
vejam que o Senhor é bom; bem-aventurado é o homem que nele se refugia... Os
leõezinhos passam fome, mas aos que buscam ao Se¬nhor, bem nenhum lhes
faltará... O Senhor resgata a alma de seus servos, e dos que nele confiam
nenhum será condenado.
A tomada de posição é corajosa e a generosidade divina
excede o nosso entendimento.
Prove e veja, como pede Davi.
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