Festa de casamento de Vingaker, Josef Wilhelm Wallander |
Sejam como os
empregados que esperam pelo patrão, que vai voltar da festa de casamento. Logo
que ele bate na porta, os empregados vão abrir. Lucas 12.36
Meu falecido amigo João Wesley, que faria oitenta e dois
anos se vivo fosse, tinha uma pegadinha que os pastores e leigos caíam sempre.
Perguntava ele: Você já leu o sermão de
John Wesley sobre a segunda vinda de Cristo? Aí ele dizia: Então foi só
você que leu, porque John Wesley nunca pregou sobre isso.
Influenciado que fui por esses dois Wesleys, eu também evito
ao máximo tocar nesse intrincado assunto, posto que para mim ele suscita uma
controvérsia generalizada. Penso, pois, que ele desperta uma esperança
altamente positiva em épocas em que a igreja é perseguida, e em contrapartida,
gera uma ilusória expectativa em tempos que a igreja goza de paz e segurança.
Quando na longa história de nossa igreja o Cristianismo foi
enxergado com uma religião pagã, que ameaçava o status quo vigente. Quando ele simplesmente era tratado como uma
erva daninha que precisava ser extirpada, justamente nessa hora que a fiel
igreja mais esperava por uma intervenção divina que os livrasse da perseguição,
que na maioria das vezes era mortal. Nestes dias, a espera da vinda do Messias
era a única perspectiva viável para a continuidade da igreja no futuro imediato.
Essa fé não somente mantinha o povo de Deus em estado de alerta contra as heresias que tentavam
acomodar a fé cristã às imposições dos perseguidores, quanto mantinha a união
de mente e de propósito entre os fiéis. Era aí que eles se empenhavam mais em
pregar o evangelho e alcançar o maior número de conversões. Era nessa hora que
o amor que Jesus vivera e ensinara mais fortemente tomava conta de seus
corações, inclusive na oração e serviço em favor daqueles que os perseguiam.
Já nos tempos de paz, a situação é completamente outra.
Quando não existe sobre os cristãos a ameaça da perseguição, e a busca pela
sobrevivência não se faz necessária, o risco não que a igreja mais corre não é
o da extinção, e sim de tomar a forma do mundo à sua volta. De se conformar com o
estado de coisas, como dizia Paulo. Quando não existe uma ameaça latente sobre os
cristãos, o grande risco é que eles se tornem uma ameaça de perseguição e à sobrevivência das outras religiões com quem têm que conviver.
Logicamente que a expectativa da vinda do Messias também
muda drasticamente. E é essa expectativa que faz com que esqueçamos o amor e o
serviço pelas outras pessoas que são alheias à nossa fé, e partamos para as tão
atuais cruzadas contra esse ou aquele credo. Não bastasse esse absurdo
doutrinário, militamos também em cruzadas internas, contra essa ou aquela
denominação cristã.
Um dos fortes argumentos em que se baseiam esses cruzados
modernos é a doutrina de que Jesus virá com ódio e castigos sobre todos os que
nele não creem. Essa falsa doutrina diz também que, se na primeira vinda Jesus
foi só mostrou o seu lado amoroso aos pecadores, nessa outra vinda ele mostrará
a sua face cruel, aniquilando tudo que não é cristão, e todos os que não
professarem o seu nome. Nem parece que Jesus estaria vindo do céu, e sim do
mais tenebroso inferno. Aliás, meu velho pai dizia que para esse céu do qual
Jesus voltaria sedento de vingança, ele não queria ir.
O meu pai e os Wesleys não estavam sozinhos. Parece-me que
também São Lucas pensava diferente. Ele imaginava Jesus voltando como alguém que
volta de uma festa de casamento. De uma festa que celebrava a união entre duas
pessoas que se permitiam conviver no mais pleno, incondicional amor e acima das suas convicções de todas as ordens. Como
alguém que contagiado pela alegria da comunhão com os noivos e com os demais
presentes trazia toda essa maravilhosa graça consigo para dentro da sua casa,
como se em uma extensão da festa quisesse transformá-la. Jesus estaria voltando
com o espírito de alguém que gostaria imensamente que a festa fosse para todos
e que não terminasse jamais.
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