Quem sou eu para você?

Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem?  Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou? Mateus 16.13 e 15
Quem dizem os homens que eu sou?
Não se trata aqui de uma simples coincidência o fato dos três evangelhos sinóticos narrarem estas cruciais perguntas que Jesus fez aos seus discípulos. Não se trata também de um acesso de estrelismo da parte de Jesus, na tentativa desesperada de querer saber o quanto era famoso em seu tempo. Estas são perguntas que trazem no seu escopo mais do que uma avaliação periódica do conhecimento pessoal, pois revelam não somente a identidade, mas também o conceito que cada pessoa, seja ela um discípulo ou não, tem de Jesus chamado Cristo.

Seria importante lembrar que tanto as respostas que os doze apóstolos levantaram junto à população, quantos as suas próprias tiveram alcances variados, no sentido de que outras tantas perguntas surgiram a partir delas, e que, por sua vez, ninguém se sentia à vontade para simplesmente não fazê-lo.

Caso se inclinassem a responder sobre a progressão da missão de anunciar a novidade do evangelho, eles teriam que transitar num perigoso terreno. Terreno esse dominado pela classe que mais progredia em Israel naquele tempo: a classe dos escribas e fariseus, porque o choque entre as duas doutrinas seria acentuado. Desequilibrado seria o confronto entre Jesus, que se anunciava através de uns poucos milagres, e aqueles que tinham atrás se si toda uma tradição milenar que se apoiava na certeza de uma lei, que seria, como foi, a única referência que lhes restaria, caso não houvesse o templo, o que foi fato na época em que os evangelhos foram escritos. Outro ponto contra é que essa desproporcional disputa não podia, da parte de Jesus, apresentar qualquer resultado favorável imediato, posto que ele havia lançado apenas uma semente, e que esta teria ainda que germinar, se consolidar como planta, crescer, para aí então dar fruto. Por outro lado ainda, além de serem em maior número, os seus adversários tinham a seu favor uma História que era lida e relida, contada e recontada também de pai para filho há muitas gerações.

Caso os discípulos se detivessem em responder sobre a implantação do Reino de Deus, a questão se levantaria contra o grupo que representava o poder econômico e político em Israel: os sacerdotes e saduceus. A simples inversão de valores, que é uma das marcas indeléveis desse Reino, por si só já seria motivo de grande escândalo. Os que estavam no poder se consideravam escolhidos por Deus, e assim sendo, um subalterno não poderia dar uma resposta franca e honesta sobre o que pensava ser Jesus, pois estariam indo contra a “vontade de Deus”, além de ir de encontro à necessidade de manter o seu emprego, que era a fonte primeira única do seu sustento, mesmo que de alguma forma houvesse sido alcançado pela misericórdia de Deus através dele.

Caso a resposta fosse no âmbito da justiça e da valorização do ser humano, que Jesus fez absoluta questão de promover em cada um dos seus itens, não apenas com palavras, mas também com ações concretas, a briga seria mais séria ainda, pois se faria oposição direta àqueles que detinham o poder de vida e morte: os temíveis e odiados opressores romanos.

Toda essa questão serve para nos alertar da grande dificuldade que encontraremos ao tentarmos responder essa simples pergunta. Nunca vai se tratar de dizer o que ele representou no seu tempo, ou do quanto a humanidade lhe é devedora. Também não poderá ser um replay do que disse Pedro, na sua famosa declaração. Será sempre algo pessoal e intransferível, pois não bastará saber o que Jesus fez ou decorar cada palavra que ele pregou, mas o que ele é na perspectiva da nossa vida presente e futura. Porque mesmo os que não creem sequer na possibilidade da sua existência, Deus espera que eles tenham sempre diante de si um contingente de pessoas prontas e decididas a responder com o custo da própria vida, se necessário, a capital importância do que é Jesus para elas. Este é, sem sombra de dúvida, o maior desafio que os que se dizem cristão encontrarão na hora em que tiverem que dar cada um uma resposta

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